Se assim for é um passo em frente

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LUSA/MANUEL DE ALMEIDA

Independentemente de quem sair vencedor das eleições de hoje, será uma óptima notícia se os resultados traduzirem uma maior aproximação entre aqueles que se afiguram ser os principais partidos, o MPLA, a UNITA e a CASA-CE. O melhor cenário seria mesmo que nenhum deles atingisse os 50%.

A necessidade de procurar compromissos e consensos são típicos de uma sociedade democrática e pluralista, situação que não existe em Angola desde que em 1992 se realizaram as primeiras eleições. Até agora a característica principal do sistema tem sido a da exclusão, mais branda ou menos branda, encarando o país como um monopólio – político, económico e cultural - onde os ‘outros’ são uns párias mal preparados, senão mesmo uns ‘maus angolanos’.

Esta realidade estende-se ao entendimento do papel da sociedade civil. Tudo é inimigo… Assim, há a urgência de uma verdadeira descompressão. Uma mudança de presidente pode eventualmente ajudar. Mas para isso também é conveniente que se altere a própria constituição que confere os actuais poderes ao presidente da república.

Dadas as características do regime que se foram calcinando ao longo das últimas décadas, dar espaço de afirmação a todos os actores não se afigura certo se uma maioria tornar a ocorrer. E obviamente é um cenário não descartável.

A segunda boa notícia, decorrente da anterior, teria a ver com a criação de condições para que o poder local, a nível provincial e dos municípios, emergisse. Já é mais do que tempo que se acabe com os governadores provinciais/responsáveis provinciais do MPLA. Isso é um resquício do tempo do partido único e em democracia  ‘à mulher de César não basta ser, é preciso parecer’.

Uma distribuição eleitoral mais distendida deveria ser uma excelente ocasião para alterar o modo de indicação política do poder local e mais uma etapa de inclusão dos cidadãos angolanos. As duas questões aqui apontadas não terão grande sentido se ao nível da economia não houver uma tremenda sacudidela. Mas o papel acabou…

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