Michael Moore não se rende e estreia peça anti-Trump na Broadway

Crítica divide-se entre o reconhecimento dos méritos do realizador-activista e os lamentos pela volatilidade dramatúrgica de The Terms of my Surrender.

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Joan Marcus

Michael Moore foi pregar aos convertidos na Broadway, apresentando Terms of my Surrender – as condições para a sua rendição, ou uma peça sobre a presidência de Donald Trump e como viver com ela. Ou será sobre Michael Moore e como não consegue viver com Trump presidente? A estreia no Belasco Theater não foi ovacionada pela crítica mas, não tendo também sido arrasada, foi sobretudo um momento para ver como um produto cultural forjado na e directamente dirigido à era Trump se porta em palco. “Terapia teatral para liberais”, elogia e resume a Hollywood Reporter, “é como levar com o tio tagarela e egocêntrico que ocupa o tempo todo do jantar de Acção de Graças”, ironiza o New York Times. O acto de protesto é, para o Los Angeles Times, “um tiro ao lado bem intencionado”.

O realizador activista fez no último ano não só TrumpLand, sobre duas noites num condado do Ohio dominado por eleitores pró-Trump, e prepara-se para estrear Fahrenheit 11/9, que quer expor os problemas da presidência liderada pelo empresário e magnata. Mas nas próximas 12 semanas, estará num teatro de Nova Iorque com cerca de mil lugares sob a frase promocional: “Can a Broadway show bring down a sitting president?”, ou “pode uma peça na Broadway fazer cair um presidente em funções?”. Numa ida recente ao programa de Stephen Colbert, Moore promoveu a sua peça dizendo: “Recuso-me a viver num país em que Donald Trump é presidente, e não me vou embora. Por isso alguma coisa tem de mudar."  

Estreada na quinta-feira à noite, a peça tem uma duração de perto de duas horas que a Hollywood Reporter diz não ser “um comício” – Moore já tinha prometido que não o seria, assim como não seria uma reunião acolhedora à volta da fogueira – mas sim uma revelação de Moore como um “contador de histórias calorosamente engraçado e cativante presidindo a uma noite de profundidade emocional surpreendente”. Michael Moore está em palco, acompanhado por actores que interpretam e ilustram momentos da sua vida e do seu activismo político e do quotidiano recente, dando espaço aos seus monólogos sobre causas que lhe são queridas, as ameaças de que foi e é alvo, e à figura do 45.º Presidente dos EUA. Mas, como alerta o Guardian, “The Terms of my Surrender é mais sobre a) Michael Moore e b) nós do que é sobre o Presidente”.

Um dos primeiros produtos culturais e directamente referenciais em palco da era Trump, como assinalam vários críticos, Terms of my Surrender contém uma enorme bandeira americana, cenas da vida pública de Trump e incentivos à acção de um pelo bem de muitos. Mas o tio chato na reunião familiar “fica aquém de fornecer ideias seriamente úteis” nesse campo, defende por seu turno o crítico do New York Times, alguns quadros são mesmo “artificiais” e a estrutura dramática instável. “Ele não está a pregar aos convertidos – está a gabar-se aos convertidos”, remata Jesse Green. É o “herói” das muitas histórias que conta, nota o LA Times, cujo crítico Charles McNulty diz ter-se sentido “alienado” à medida que o espectáculo continuava. Para o Washington Post, de facto, “Michael Moore devia deixar a Broadway para os profissionais”, como titula o diário da capital americana.

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