Lima não promete recordes, mas já pensa em finais

O velocista português treinado por Linford Christie não passou à corrida decisiva dos 200m, mas deixou boas impressões.

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David Lima LUSA/SRDJAN SUKI

Das eliminatórias para as meias-finais dos 200m nos Mundiais de atletismo de Londres, David Lima estava superconfiante numa qualificação e aconteceu. Da meia-final para a final, e ainda sem saber os resultados das outras séries, a confiança não era a mesma. A sensação do velocista português confirmou-se, ele não iria avançar para a final do duplo hectómetro, um destino confirmado logo na segunda série, mas Lima, no seu português meio british, até achou que esta tinha sido a melhor das três corridas que fizera em Londres.

A primeira série, onde estava Lima, teve um acrescento de última hora. Desta vez, a pista encharcada do Estádio Olímpico tinha um ocupante, Isaac Makwala, o homem do Botswana, que tivera de correr a qualificação sozinho depois de ter sido posto de quarentena por causa de um vírus. Makwala estava ao lado do português e disparou para um dos dois lugares de qualificação directa, enquanto Lima, que entrou na curva nas últimas posições, chegou em quarto da série e ainda dentro da qualificação (passavam os dois primeiros em cada série, mais dois repescados por tempo), com 20,54s, mas com um par de sub-20 apenas segundos atrás de si, o sul-africano Akani Simbine e o jamaicano Rasheed Dwyer.

As séries seguintes encarregar-se-iam de tirar o português da final e gente tão notável como Yohan Blake, antigo campeão da distância – pela primeira vez em 15, não haverá um jamaicano nesta final, sendo que Usain Bolt abdicou de lá estar. Mas o português não estava desmoralizado. Antes pelo contrário. “Cada prova que fiz foi melhor que a outra. É pena a pista, é pena o tempo, mas acho que teve muitas coisas boas. Não tenho nenhuma meta ainda, mas vai passo a passo, para o ano são os Europeus, em Berlim. Pode ser a final, mas é preciso amadurecer como atleta. Foi mesmo isto que aconteceu aqui.”

Mesmo sem nenhuma final em Londres entre os 100m (onde não passou das eliminatórias) e os 200m, o velocista foi uma das poucas boas notícias para a comitiva portuguesa nos Mundiais e, em especial, para a velocidade portuguesa, ainda com Francis Obikwelu a dominar todos os recordes – 9,86s nos 100m e 20,01s nos 200m. Chegar às marcas do antigo vice-campeão olímpico não é algo que David Lima queira prometer. “Ainda não penso nisso. Falar dessas coisas de uma forma tão flagrante seria uma falta de respeito ao Francis. O Francis não falava, fazia”, diz Lima que já é o segundo melhor português de sempre nas duas distâncias – 10,05s nos 100m e 20,30s nos 200m.

Lima é um caso único na comitiva portuguesa. Em Londres, estava a correr em casa, ele que vive em Inglaterra desde os seis anos, e, antes destas meias-finais, preferiu ter uma dose de normalidade quotidiana. “Fui dormir a minha casa, não queria estar no hotel, descansar na minha casa e começar como um dia qualquer em Londres. Tomar um pequeno-almoço de fajitas com manteiga de amendoim, beber um bom café – o café do hotel não está com nada”, contava Lima após a prova.

Por viver em Inglaterra, Lima, cuja alcunha nas redes sociais é o “skinny sprinter” (o velocista fininho), tem sido sempre acompanhado por treinadores britânicos e, actualmente, trabalha com o grupo de Linford Christie, antigo campeão olímpico dos 100m. Christie tem acompanhado de perto o português nestes Mundiais e o PÚBLICO testemunhou isso em dois momentos, uma visita sua ao hotel da selecção algumas horas antes da prova, e um telefonema ao português logo após as séries dos 100m. “Acho que foi muma prova muito madura. Eu não ‘panicked’ a fazer a curva”, disse Lima no final da sua participação em Londres. “Fiz o que o meu ‘coach’ disse e acho que ele vai ficar feliz.”

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