Bitcoin em alta após divergências sobre funcionamento da moeda

Uma discussão sobre como acelerar os pagamentos tinha acalmado os investidores.

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Há quem aceite bitcoins, mas a adopção tem sido lenta Reuters/STEPHEN LAM

O preço da bitcoin voltou nos últimos dias a atingir novos picos, após um período de impasse sobre o funcionamento da moeda digital que expôs as dores de crescimento e os desafios de uma divisa que não é regulada nem está associada a uma entidade central.

A procura por bitcoins tinha recentemente passado por um período de relativa acalmia, com o preço a afundar para níveis abaixo dos dois mil dólares, sobretudo em consequência de divergências entre os utilizadores da moeda que se dedicam a manter o sistema a funcionar. Mas o valor disparou desde o início do mês, com a decisão sobre a adopção de uma medida técnica que pretende tornar a tecnologia mais eficaz. 

O indicador do valor da bitcoin publicado diariamente pela Bolsa de Nova Iorque indicava que a moeda valia nesta terça-feira 3373 dólares (ou 2874 euros). No início do ano, o valor andava em torno dos mil euros. A Bolsa de Nova Iorque compila informação de várias fontes, mas o preço das bitcoins, bem como o de outras divisas semelhantes, varia muito. As transacções ocorrem 24 horas por dia, em serviços online que funcionam como bolsas não reguladas. Às 18h40 desta quarta-feira, o site Coindesk indicava um preço de 2844 euros. As grandes subidas registadas neste ano permitiram a muitos investidores conseguirem lucros significativos, mas também têm dado azo a discussões em torno da possibilidade de uma bolha especulativa.

Ao longo dos últimos meses, os utilizadores da bitcoin debateram o funcionamento da blockhain, a tecnologia de base de dados distribuída em que as bitcoins assentam. Em causa estão limitações definidas pelo criador da moeda (o misterioso Satoshi Nakamoto), que fazem com que o tempo que o sistema demora a processar e validar novas transacções em bitcoins seja muito longo quando comparado com os tradicionais sistemas de pagamento, como os dos cartões bancários. Isto significa que quando alguém paga algo em bitcoins pode ter de esperar horas até que a transacção esteja completa, ao passo que um sistema tradicional de pagamentos demora escassos segundos.

A tentativa de encontrar uma solução técnica para este problema causou um debate intenso e divisões entre as várias partes envolvidas na tecnologia, incluindo empresas, programadores e os utilizadores normalmente conhecidos como miners (a palavra inglesa para mineiros). Trata-se das pessoas, ou grupos de pessoas, que usam o software da bitcoin e cujos computadores se dedicam a validar as transacções e a assegurar o funcionamento da blockchain. De cada vez que alguém valida um bloco de transacções, recebe bitcoins como recompensa. Uma das soluções propostas acabou recentemente por ser aceite pela maioria destes miners e será implementada nos próximos dias, com uma actualização de software. Mas uma minoria decidiu, no início deste mês, seguir por outro caminho e criar uma nova moeda, chamada bitcoin cash (que vale actualmente nove vezes menos do que uma bitcoin).

Esta está longe de ser a primeira vez que surgem moedas digitais com um funcionamento semelhante ao da bitcoin. Uma das mais conhecidas é a ether (também chamada ethereum, o nome da rede em que assenta), cujo preço é hoje cerca de 30 vezes superior ao do início do ano.

Muitos dos investimentos nestas divisas digitais são motivados pela perspectiva de lucro rápido. Mas alguns investidores argumentam que a tecnologia de blockhain acabará por se massificar e as moedas poderão ser usadas para comprar bens e serviços.

Por ora, e apesar de ter sido criada há quase nove anos, a bitcoin (de longe, a mais popular destas moedas) continua a ter uma utilização de nicho – e a ser frequentemente usada em actividades ilegais. Os autores do recente ataque informático à estação de televisão HBO estão a exigir um pagamento em bitcoins para não divulgarem informação secreta. Também os autores do ataque WannaCry exigiam às vítimas um pagamento em bitcoins para que estas pudessem voltar a ter acesso aos ficheiros.

Por outro lado, a banca e os serviços financeiros estão entre os sectores atentos à tecnologia. Nesta quarta-feira, a multinacional americana Fidelity, que presta serviços de investimento, anunciou uma parceria com a bolsa de bitcoins Coinbase, passando a permitir que os seus clientes possam consultar no site da Fidelity e partilhar com os gestores de investimentos os fundos que tenham naquela moeda digital.

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