Google despede engenheiro acusado de sexismo — e a Wikileaks oferece-lhe emprego

James Damore defendeu que a desigualdade entre homens e mulheres nas empresas se explica por diferenças biológicas, e que quaisquer políticas para a combater são más para o negócio.

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Reuters/MIKE BLAKE

James Damore, engenheiro de software do Google, saltou para as primeiras páginas depois de, na sexta-feira, ter publicado um memorando interno onde discutia a paridade em lugares de chefia de topo, argumentando que a desigualdade de oportunidades na empresa se devia a diferenças “biológicas” entre homens e mulheres, e recusando políticas de promoção da igualdade. Esta segunda-feira, o engenheiro foi despedido pela  Alphabet, a dona do Google, e foi acusado de “perpetuar estereótipos de género”. A informação foi confirmada à agência Reuters pelo próprio Damore, que estará agora a explorar os “todos os mecanismos legais disponíveis” para recorrer da decisão.

Num documento de dez páginas, onde James Damore acusava o Google de silenciar opiniões mais conservadoras, o engenheiro escreveu que “a discriminação positiva para conquistar uma representação igualitária é injusta, desagregadora e má para o negócio".

Esta segunda-feira, Sundar Pichai, presidente executivo do Google, assinou um comunicado interno onde declara que o memorando de Damore ultrapassou os limites “com estereótipos que prejudicam o ambiente de trabalho e a empresa”, cita a BBC.

"Sugerir que um grupo de colegas tem características que o torna biologicamente menos apto para um trabalho é ofensivo e não é correcto", escrevu Pichai.

"É contrário aos nossos valores elementares e ao nosso código de conduta, em que se espera que cada Googler [trabalhador do Google] faça o máximo para criar uma cultura de trabalho livre de assédio, intimidação, preconceito e discriminação ilegal", escreve o CEO no documento partilhado pelo portal Techcruch.

Logo a após a sua divulgação, o memorando de Damore tinha tido resposta imediata de Danielle Brown, responsável pelo departamento de Igualdade e Diversidade da empresa, que sublinhou num e-mail que a opinião do engenheiro não corresponde ao que a empresa “defende, promove e encoraja”. 

Vários executivos do Google partilharam ainda um texto de um antigo engenheiro sénior do Google. No seu blogue, Yonatan Zunger considera que o documento de Damore é nada menos do que um “guia para um ambiente de trabalho hostil”.

“Tenho de ser muito claro: não só tudo o que é dito no documento está errado, como o facto de ter sido escrito prejudicou as pessoas nesta empresa e a capacidade da empresa funcionar”, considera.

“Se não tivesses escrito este manifesto, talvez estivéssemos a ter uma conversa sobre as competências que deverias desenvolver para não bloqueares na tua carreira – precisamente aquelas que descreves como sendo ‘competências femininas’”, expõe Zunger. “Conseguem imaginar ter de trabalhar com alguém que questionou publicamente as vossas competências básicas para desempenhar uma função?”, acrescenta ainda Zunger num e-mail citado pela Bloomberg.

Ao New York Times, o engenheiro despedido respondeu que tem o direito de “expressar” as suas “preocupações com os termos e condições” do seu ambiente de trabalho e “denunciar um comportamento potencialmente ilegal”.

Se as reacções ao memorando foram maioritariamente negativas, há também quem esteja do lado de James Damore. Julian Assange, fundador do site de denúncias Wikileaks, é um dos exemplos. Assange, que vive exilado na embaixada do Equador em Londres, no Reino Unido, ofereceu mesmo emprego ao funcionário despedido, condenando a decisão do Google, que acusa de censura.

De acordo com o seu perfil no Facebook, Damore trabalhava no Google desde 2013.

Apesar de uma reacção rápida a este episódio, o Google também enfrenta acusações de discriminação. Desde Abril que a empresa é alvo de uma investigação pelo Departamento de Trabalho dos Estados Unidos, sendo acusada de, por sistema, pagar mais a funcionários do sexo masculino do que a mulheres em cargos semelhantes.

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