Solidão pode ser pior para a saúde do que a obesidade

Muitos países vivem uma “epidemia de solidão”, diz investigadora, alertando que nos devemos preparar para uma aposentação social, já que muitos dos laços sociais estão ligados ao local de trabalho.

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José Sarmento Matos

A solidão e o isolamento social podem tornar-se um perigo para a saúde pública maior do que a obesidade, revela uma investigação apresentada no sábado na 125.ª Convenção Anual da Associação Americana de Psicologia, na cidade de Washington, Estados Unidos.

“Estar ligado a outros socialmente é amplamente considerado uma necessidade humana fundamental, crucial para o bem-estar e sobrevivência. Exemplos extremos mostram que crianças institucionalizadas que não têm contacto humano não se desenvolvem e muitas vezes morrem e, de facto, o isolamento social e o confinamento solitário têm sido usados como forma de punição”, apontou Julianne Holt-Lunstad, professora de Psicologia da Universidade de Brigham Young (no Utah, EUA), citada num comunicado da Associação Americana de Psicologia.

Para ilustrar o impacto do isolamento social e da solidão no risco de morte prematura, a psicóloga apresentou dados de duas análises. A primeira envolveu 148 estudos, nos quais participaram mais de 300 mil pessoas, e revelou que uma maior relação social está associada a uma redução em 50% no risco de morte prematura.

Por outro lado, a segunda análise, que envolveu 70 estudos e mais de 3,4 milhões de pessoas, não só norte-americanos, mas também europeus, asiáticos e australianos, avaliou o papel que o isolamento social, a solidão ou o viver sozinho podem ter na mortalidade.

Os investigadores descobriram que estes três factores têm igual efeito no risco de morte prematura e que um deles tinha igual ou superior efeito ao de outros factores de risco, como a obesidade. “Há provas fortes de que o isolamento social e a solidão aumentam o risco da mortalidade prematura, e a magnitude do risco ultrapassa a de muitos indicadores de saúde”, apontou Julianne Holt-Lunstad, segundo o comunicado. Outros estudos têm concluído o mesmo.

A investigadora alertou que com o aumento da média das idades da população, o efeito destes factores na saúde pública “só deverá aumentar”. “De facto, a realidade em muitos países sugere que estamos perante uma epidemia de solidão. O desafio que agora se coloca é o de saber o que é que podemos fazer contra isso.”

A investigadora recomendou que seja dada maior prioridade, tanto em investigação científica como em recursos, para enfrentar esta ameaça à saúde pública a nível individual. Nesse sentido, sugeriu uma maior atenção nas escolas ao treino das capacidades sociais das crianças e que os médicos tenham em consideração, no momento dos rastreios médicos, a questão dos laços sociais dos seus pacientes.

Por outro lado, Julianne Holt-Lunstad alertou que todas as pessoas se devem preparar para uma aposentação social, mas também financeira, já que muitos dos laços sociais estão relacionados com o local de trabalho. O planeamento ao nível das comunidades, considerou ainda a investigadora, deve ter em consideração a existência de espaços sociais partilhados, como centros recreativos e jardins, para encorajar os encontros e as interacções sociais.

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