Rendimento a recuperar mais rápido que o PIB em Portugal

Ao contrário do que acontece com a Irlanda, não é nas acções das multinacionais que se encontra a principal razão para que Portugal tenha um PIB maior que o RNB.

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No caso português, Bruxelas aponta para uma variação do PIB de 1,8% em 2016 e vê o RNB a subir 2,2% REUTERS/Francois Lenoir

A diferença entre o PIB e o RNB em Portugal não atinge nem se aproxima da registada na Irlanda, mas a variação dos dois indicadores no país tem mostrado, em algumas ocasiões, ritmos diferentes, relacionados especialmente com a forma como evolui o nível dos juros que o país tem de pagar ao estrangeiro por causa da sua dívida.

Durante as últimas décadas, o produto interno bruto (PIB) português tem estado sempre a um nível acima do rendimento nacional bruto (RNB), espelhando o facto de serem maiores as transferências de rendimentos de Portugal para estrangeiros do que do estrangeiro para portugueses.

Existem, no entanto, duas grandes diferenças face à Irlanda. A primeira é que o fenómeno não atinge a dimensão registada na Irlanda, não se chegando a conclusões completamente diversas sobre a economia portuguesa, consoante se olha para o PIB ou para o RNB.

A segunda é que, ao contrário do que acontece com a Irlanda, não é nas acções das multinacionais que se encontra a principal razão para que Portugal tenha um PIB maior que o RNB. O saldo negativo na balança de rendimentos portuguesa é explicado em larga medida pelo volume muito significativo de juros que são pagos ao estrangeiro.

Portugal paga juros ao estrangeiro quando, por exemplo, o Estado compensa os investidores internacionais que são detentores de dívida pública portuguesa ou quando os bancos portugueses o fazem face aos compromissos assumidos quando obtiveram financiamento junto de investidores e instituições bancárias residentes no exterior.

Se o PIB tem sido sempre maior que o RNB, já a taxa de variação dos dois indicadores tem trocado de posições em diversas ocasiões, chegando mesmo a ser motivo de debate entre responsáveis políticos. Em 2008, o então Presidente da República Cavaco Silva decidiu alertar que, embora o PIB ainda registasse uma taxa de crescimento positiva, o RNB estava já a recuar, o que significava que os portugueses estavam a sentir nos seus rendimentos o efeito da crise que então se desenrolava um pouco por todo o mundo.

Essa contracção antecipada do RNB aconteceu então porque, com a dívida a subir e as taxas de juro a agravarem-se, os agentes económicos portugueses estavam a ver cada vez mais dinheiro a fugir-lhes por conta do seu elevado endividamento.

Agora, curiosamente, está a verificar-se a situação inversa. De acordo com os cálculos feitos pela Comissão Europeia, em 2016 o RNB registou já um crescimento de 2,2%, uma taxa bem superior aos 1,4% conseguidos no PIB. E para 2016, Bruxelas, ao mesmo tempo que aponta para uma variação do PIB de 1,8%, vê o RNB a subir 2,2%.

O que pode explicar estas diferenças é mais uma vez a evolução dos juros da dívida. Não só os agentes económicos portugueses (empresas e banca principalmente) têm vindo a ser forçados a diminuir a sua exposição ao endividamento com o exterior (Portugal, como um todo, tem registado excedentes na sua balança externa) como, durante os últimos meses, as taxas de juro que têm de suportar tornaram-se menos penalizadoras.

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