Usain Bolt não vai mudar de ideias: “É duro quando se fica mais velho”

Depois da derrota na final dos 100m dos Mundiais de Londres, o relâmpago jamaicano mantém-se firme na decisão de abandonar o atletismo.

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LUSA/SRDJAN SUKI

Coisa rara, Usain Bolt perdeu uma corrida de 100m. Foi em Londres, onde o jamaicano há cinco anos fora tricampeão olímpico. Ele queria fechar a sua história com mais uma vitória, não deu, mas não é isso que o vai fazer mudar de ideias. Tem 30 anos, vai fazer 31 daqui a duas semanas e sente-se velho. “Isto não muda nada. Perdi para um adversário muito forte e para um miúdo com muito talento. Nada vai mudar na minha carreira”, garante.

O hectómetro foi a única prova individual que Bolt incluiu no seu calendário em Londres, deixando de lado os 200m, uma decisão da qual também não se arrepende. “Os 200m ainda seriam piores. Não me sinto em forma para correr os 200m, foi uma época muito difícil. É duro quando se fica mais velho”, admite Bolt, que fará a sua verdadeira, derradeira e irreversível despedida das pistas na estafeta jamaicana dos 4x100m no penúltimo dia da competição. “A cada ano tem sido cada vez mais difícil manter-me saudável, de ser o melhor”, refere.

Do que Bolt se arrependeu foi da sua partida na final, o que não é nada invulgar no seu processo de corrida. Mas desta vez teve efeitos piores: “Sabia que ia estar em sarilhos se não começasse bem. Assim que saí, pensei ‘Ahh, lá tenho de ir’…” Bolt nem sequer se apercebeu que tinha sido Gatlin o campeão porque estava mais focado em Christian Coleman, que estava a servir de “lebre”, e nem sequer olhou para o seu lado direito. “O Coleman tinha partido muito bem e eu estava a ir atrás dele, e só depois é que vi que o Justin tinha ganho.”

Muita da conferência foi focada em Bolt e naquele que era para ser a sua festa de despedida. Coleman, o novato vice-campeão, praticamente nem abriu a boca, e Gatlin passou muito do tempo a tentar desfazer uma imagem de bad boy que projectam nele, a falar dos apupos que levou todas as vezes que tem corrido nestes Mundiais (por causa da fama de batoteiro) e a tentar deixar no passado as suspensões que cumpriu pelo uso de doping.

“Nunca digo mal de ninguém. Não sei de onde vem essa do bad boy. Cumprimento sempre todos os meus adversários, hoje curvei-me perante o Usain Bolt na despedida dele. [Os apupos] Não percebi porquê. Nunca fui apupado antes, em nenhum Mundial e nem fui apupado aqui nos Jogos Olímpicos. Os apupos foram mais altos que alguns aplausos. Mas fiquei na minha pista e foi uma noite mágica”, observou o norte-americano.

Depois, vieram as questões sobre doping, sempre incómodas para atletas a este nível e uma pergunta, em especial, procurava relacionar a fraca qualidade dos tempos com o apertar do cerco aos que recorrem a substâncias dopantes. Bolt foi o primeiro a responder. “Acho que essa pergunta é uma falta de respeito. Eu já provei por mim, ele [Gatlin] tem provado nos últimos tempos. Há uma coisa chamada lesões, há o vento…”, disse o jamaicano.

Depois, Gatlin, que cumpriu uma longa suspensão após ser apanhado várias vezes no primeiro auge da sua carreira, apresentou-se como alguém que errou e que já cumpriu as suas penas: “Sou um corredor, voltei ao desporto, cumpri o meu tempo. Fiz serviço comunitário. A sociedade tem uma forma de lidar com as pessoas que erraram, e espero que a comunidade do atletismo faça o mesmo.”

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