“As duas maneiras de perder uma eleição”

Editorial publicado a 18 Julho de 2017, por David Dinis.

Em 18 de julho de 2017, David Dinis, em editorial do jornal PÚBLICO, a propósito da polémica sobre a etnia cigana, recorda a sucessão de Durão Barroso por mim próprio, em junho e julho de 2004, e escreve o seguinte:

“Volta e meia vem-me à memória uma frase que li, aqui no PÚBLICO, citando Manuela Ferreira Leite num célebre e quente Conselho Nacional do PSD. ‘Há duas maneiras de perder: uma é com honra, outra é sem ela.’”

Assim, uma vez grafada a putativa “citação”, seguem-se mais umas frases vagas sobre o contexto da ida de Durão Barroso para Bruxelas, e, como não poderia deixar de ser, lá vem expressamente referido o meu nome, Alfa e Ómega desde as Guerras Púnicas, dando nota de que essa transição de pasta “não foi pacífica”. O que não será grande novidade se falarmos de factos de vida interna de um partido político numa altura como essa.

Sobre esse editorial, há que dizer que consegui ouvir a gravação da intervenção de Manuela Ferreira Leite, resultando daí que nem uma palavra das que lhe são atribuídas por David Dinis foi dita. Portanto, cita falsamente para falar depois em honra.

Há duas maneiras de ser jornalista e diretor: com honra e sem honra. Neste caso escrever o que escreveu sem declarar que, à época, era adjunto de imprensa do primeiro-ministro, Durão Barroso, e que eu, quando lhe sucedi, entendi não o convidar para continuar em funções, é agir sem honra. As verdades, por vezes, são duras. Mas são sempre melhores do que as mentiras, insinuações ou invenções ofensivas.

Algumas vezes, quem serviu um poder quer mostrar depois que é muito “independente”. É assim o nível deste cosmos luso.

Cito Vicente Jorge Silva, in Livro de Estilo, do jornal PÚBLICO, Ed. PÚBLICO, Comunicação Social, SA, Impressão Printer Portuguesa, Fevereiro 1998, pág. 29: “A abertura do PÚBLICO à criatividade jornalística não se confunde com a ausência de regras. Mesmo quando se escolhe um ângulo de abordagem inesperado ou se privilegia um aspeto que não é imediatamente óbvio, a construção das notícias [...] [incluo à minha responsabilidade os editoriais] tem de ser tecnicamente irrepreensível. [...] O casamento entre técnica e ética é um contrato essencial da vocação jornalística.” E adianta, na mesma página, “credibilidade pressupõe responsabilidade”. Subscrevo. Pedro Santana Lopes, provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa

Nota da Direcção Editorial

Dizer apenas ao Dr. Santana Lopes que citei o PÚBLICO naquela frase, na altura não contestada pelo próprio nem pela visada. E manifestar estranheza pelo seu acesso à gravação do Conselho Nacional de 2004, realizado à porta fechada, quando um pedido formal do PÚBLICO ao PSD foi remetido para o Conselho de Jurisdição, alegando-se ser um pedido nunca antes visto. Já agora, para o leitor perceber: o editorial que tanto irritou o Dr. Santana Lopes não era sobre ele, era sobre André Ventura. O Dr. Jorge Sampaio diria que é sintomático. David Dinis, director

 

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