O campeonato do videoárbitro

O Desportivo das Aves-Sporting de amanhã será o primeiro jogo da primeira jornada de um campeonato que, antes de começar, já tem uma estrela: o videoárbitro.

Esta grande contratação do futebol português para a época 2017-2018 custou cerca de sete vezes menos que Soares (FC Porto), dez vezes menos que Bas Dost (Sporting) e 20 vezes menos que Raúl Jiménez (Benfica). A Federação Portuguesa de Futebol (FPF) assume os custos desta “aquisição” que irá ser utilizada pela Liga na sua principal competição: a Liga Nos.

De forma simplista, podemos comparar este investimento da FPF no projecto videoárbitro, disponibilizando-o em favor da Liga Nos, aos fundos de investimento que compram jogadores e os entregam, sem custos, a um clube, para que este possa valorizar o seu activo. No caso do videoárbito, o activo que a FPF quer valorizar, ou pelo menos proteger, é a verdade desportiva deste desporto/negócio que é o futebol português.

No entanto, tal como um jogador que chega a um novo clube necessita de tempo e crédito para se poder afirmar, também o projecto videoárbitro irá necessitar de um período de adaptação. Um período inicial em que o videoárbito nem sempre será usado da melhor forma ou da forma como adeptos, clubes dirigentes e jornalistas esperavam que fosse. Nesta primeira época do videoárbito são dois os desafios que este irá enfrentar: o primeiro desafio é intrínseco ao projecto em si: intervir para impedir que aconteçam erros que ponham em causa a verdade desportiva (game changing decisions) como são os casos de: golos (quando há uma falta ou fora-de-jogo num lance de golo); decisões de pontapé de penálti (decisão errada na atribuição ou não atribuição de um pénalti); e incidentes para cartão vermelho (apenas vermelhos directos). Há ainda uma quarta situação, esta administrativa, na qual o videoárbito deve intervir e que está relacionada com a identificação errada de um jogador aquando da amostragem de um cartão amarelo ou vermelho.

O segundo desafio resulta das expectativas que estão a ser colocadas na implementação do videoárbito. É o desafio de educar jogadores, treinadores, dirigentes, jornalistas e adeptos sobre o objectivo deste projecto, que passa “apenas” por eliminar erros claros em situações (acima descritas) que alterem a verdade do jogo. É, pois, preciso esclarecer que lances duvidosos vão continuar a existir, erros de arbitragem não vão desaparecer e que o jogo continuará a ser jogado e arbitrado, maioritariamente, da mesma forma.

Seguramente que todos, os que estão profissionalmente ligados ao futebol ou os que apenas o acompanham e vivem de forma mais próxima, vão continuar a ter opiniões díspares sobre as situações de jogo. A discussão não vai terminar.

Com a introdução do videoárbito vamos passar a ter mais duas importantes questões que deveremos considerar sempre que pensarmos em dizer que “o videoárbito podia ter ajudado”. Assim, quando analisarmos uma situação, deveremos colocar-nos as seguintes perguntas: “O lance em causa enquadra-se numa das quatro situações previstas de intervenção do videoárbito?” e, a pergunta fundamental, “foi um erro claro?”. A resposta positiva a estas duas questões é o que justifica uma intervenção do videoárbito num jogo de futebol.

O conceito de “erro claro” é a chave final para uma boa intervenção do videoárbito. “Erro claro” é aquele erro que não está sujeito a uma interpretação subjectiva. Aquele erro que todos, independentemente de preferências clubísticas, ao olharmos para as imagens televisivas, reconhecemos. É aquele lance em que se perguntarmos a opinião a dez amigos, que percebam de futebol, mas que sejam de clubes diferentes, pelo menos nove têm a mesma visão do lance. Eu já tenho o meu grupo de dez...

Amanhã começa o campeonato do videoárbitro. A acompanhar a entrada do videoárbito no futebol veio a expressão “mínima interferência, máximo benefício”. Esta expressão não precisa de ser associada apenas ao videoárbito. Pode e deve aplicar-se a toda a arbitragem. Que as equipas de arbitragem tenham que intervir o menos possível e que das suas intervenções resulte o máximo benefício para o futebol é o que se deseja. É isso que o futebol espera dos árbitros. Boa época!     

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