Aldeia de Penela já está a cortar eucaliptos, reflorestação arranca em Outubro

Os habitantes da aldeia fizeram o cadastro e contabilizaram cerca de 300 parcelas de terrenos com eucaliptos e começaram esta semana a cortar as árvores. Depois, os terrenos serão reflorestados com espécies autóctones e mais resistentes às chamas.

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A aldeia foi uma das afectadas pelo incêndio de Pedrógão Grande, que causou a morte a 64 pessoas Adriano Miranda/ARQUIVO

A aldeia Ferraria de São João, em Penela, que foi afectada pelo incêndio de Pedrógão Grande, já começou a cortar eucaliptos na aldeia e, em Outubro, deve começar a fazer a reflorestação na zona de protecção da povoação.

A pequena aldeia de xisto do concelho de Penela (distrito de Coimbra) decidiu no final de Junho, após o incêndio que deflagrou em Pedrógão Grande (distrito de Leiria), avançar com uma zona de protecção contra incêndios de cerca de 100 metros em redor da localidade. Entretanto, os habitantes já se puseram ao trabalho.

Fizeram o cadastro — no qual contabilizaram cerca de 300 parcelas de terrenos com eucaliptos — e avançaram esta semana com o corte destas árvores, que está a decorrer com recurso a uma equipa de madeireiros, contou à agência Lusa o presidente da associação de moradores, Pedro Pedrosa.

Os trabalhos de corte dos seis hectares de eucaliptal na zona de protecção da aldeia (que tem um total de 15 hectares) começaram na segunda-feira e estima-se que, dentro de duas a três semanas, todas as árvores estejam cortadas e que sejam limpos os sobrantes (ramos e folhas).

Depois do corte, prossegue-se com o arranque das raízes e "a lavoura do terreno", que vai ficar preparado para a reflorestação com espécies autóctones e mais resistentes às chamas. Esta reflorestação deve decorrer entre o final de Setembro e o início de Outubro, referiu Pedro Pedrosa, sublinhando que a parte final do processo depende da altura "das primeiras chuvas".

Ao mesmo tempo, a população vai estar atenta ao possível aparecimento de rebentos de eucaliptos, sendo que a manutenção e a gestão dos seis hectares da zona poderão ser realizadas "através de acções de voluntariado". O corte vai conseguir ser pago com a própria madeira arrecadada e o arranque vai ser feito através de "fundos próprios" da associação de moradores e, se possível, com apoios, que Pedro Pedrosa espera que possam chegar.

"Temos um programa próprio de adopção dos sobreiros", explicou, sublinhando que esta espécie resistiu quando as chamas chegaram à aldeia e estancou o avanço do incêndio para as casas. Neste momento, já receberam mais "dez pedidos de adopção" dos sobreiros, realçou.

Qualquer pessoa pode ser padrinho ou madrinha de uma destas árvores presentes na Ferraria de São João, através do pagamento de 60 a 80 euros de nove em nove anos (o ciclo da cortiça). "Se quiserem, têm direito a 50% da cortiça. Os restantes 50% revertem para o projecto", aclarou Pedro Pedrosa, acrescentando que também há a possibilidade de a associação se candidatar a fundos.

Na Ferraria de São João, foram contabilizadas 300 parcelas de terrenos com eucaliptos, que totalizam uma área de seis hectares dentro dos 15 hectares da zona de protecção da aldeia contra incêndios.

Os restantes hectares são constituídos por zonas agrícolas, sobreiral, mato e espaços de habitação, informou. Depois desta aldeia do concelho de Penela, também a aldeia de xisto de Casal de São Simão, no concelho de Figueiró dos Vinhos, decidiu avançar com uma zona de protecção contra incêndios.

Dois grandes incêndios começaram no dia 17 de Junho em Pedrógão Grande e Góis, tendo o primeiro provocado 64 mortos e mais de 200 feridos e só foram extintos uma semana depois. Estes fogos terão afectado aproximadamente 500 imóveis, dos quais mais de 200 eram casas de primeira habitação.

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