Objectos de Auschwitz em exposição itinerante durante sete anos

A exposição sobre o Holocausto chega em correio urgente aos mais jovens.

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Reuters/RONEN ZVULUN

A Julho de 1945 os países vitoriosos da Segunda Guerra Mundial reuniam-se na Conferência de Potsdam para tomar a decisão sobre como administrar a Alemanha, que se tinha rendido nove semanas antes, no dia 8 de Maio, entregando a vitória militar aos Aliados. Mais de 70 anos depois, alguns objectos de campos de concentração vão começar uma viagem pela Europa e a América do Norte, a partir do final do ano, escreve o New York Times esta quarta-feira.

A iniciativa pretende aproximar as gerações mais jovens às memórias do período do Holocausto. A Casa de Anne Frank, o Museu dos Judeus de Berlim e o Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos, entre outros, unem forças para combater o esquecimento e ignorância dos mais jovens sobre o extermínio de judeus pelos nazis.

O director do museu de Auschwitz, Piotr Cywinski, afirma que já chega de “estar sentado dentro de quatro paredes, olhar para a porta à espera que os visitantes cheguem”.

A intenção da criação de um périplo de sete anos é alertar os mais jovens para o extermínio de judeus no século passado. A exposição é uma reacção à crescente onda de racismo anti-semita. Após algumas contorvérsias sobre o pagamento da entrada da exposição, a organziação explica que os estudantes terão entrada gratuita. Tal como o bilhete para visitar Auschwitz é pago, os responsáveis asseguram que o intuito da exposição não é o lucro, mas a divulgação dos itens em exibição e a sua adaptação ao panorama político actual.

A comunidade judaica expressou apoio à iniciativa e diz que não está preocupada com as entradas pagas para visitantes, segundo o jornal americano.

A exposição começou a ser preparada em 2010, quando a Musealia, uma empresa que organiza exposições, como por exemplo, uma de artefactos do Titanic, abordou o museu polaco.

Auschwitz, no entanto, fez exigências. O museu exigiu que os objectos estivessem sempre sob segurança e que os locais de exposição cumpram os rigorosos requisitos de conservação do museu da Polónia, incluindo o transporte e armazenamento adequados, bem como a escolha de espaços de exibição com suficiente iluminação e controlo de temperatura.

Os primeiros a abrirem as portas da exposição para o mundo vão ser os espanhóis. A primeira paragem da exposição será em Madrid, no mês de Dezembro, e depois começará a sua viagem de sete anos pela Europa e América. As datas e os locais precisos serão anunciados daqui a um mês.

Se as pessoas não vão ao memorial, o memorial vai às pessoas. Mas com cuidado

A iniciativa surge num ano que já regista episódios de desrespeito, furto ou vandalização de itens do museu de Auschwitz. Em Julho, uma estudante israelita roubou objectos do campo de concentração de Auschwitz, na Polónia, para a criação de um projecto de arte no âmbito da sua licenciatura. O campo de concentração, onde morreram cerca de 1,1 milhões de pessoas, já disse que vai avançar com queixas contra a mulher de 27 anos.

Outro episódio foi numa recente visita ao campo de concentração de Auschwitz do congressista republicano Clay Higgins que fez um vídeo a falar sobre as atrocidades cometidas naquele local. Os funcionários da Auschwitz criticaram o congressista norte-americano por gravar e difundir um vídeo dentro de uma câmara de gás no antigo campo de extermínio nazi.

E os portugueses não fogem à lista de mau comportamento. Dois adolescentes portugueses foram condenados por um tribunal polaco a um ano de prisão, com pena suspensa por terem gravado os nomes no portão da entrada principal de Auschwitz-Birkenau. Na altura, os dois estavam na Polónia para participarem nas Jornadas Mundiais da Juventude, organizadas pela cidade de Cracóvia, e em que participou o papa Francisco.

O roubo mais célebre ocorreu em 2009, quando desapareceu a inscrição em ferro forjado com a frase Arbeit macht frei ('O trabalho liberta'), existente no topo do portão principal do campo. A peça foi posteriormente recuperada e os responsáveis pelo furto foram condenados a penas de prisão.

Entre 1940 e o início do ano de 1945, a Alemanha nazi matou no campo de Auschwitz-Birkenau cerca de 1,1 milhões de pessoas, entre um milhão de judeus de diferentes países europeus. Neste campo morreram também 80 mil polacos não judeus, 25 mil ciganos e 20 mil soldados soviéticos.

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