Macron junta rivais e promete eleições na Líbia na Primavera de 2018

O primeiro-ministro Fayez al-Serraj e o marechal Khalifa Haftar assinaram um acordo de cessar-fogo e prometem esforçar-se para realizar eleições "o mais cedo possível" num país em guerra desde a revolução que derrubou Khadafi, com a ajuda da NATO, em 2011.

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O primeiro-ministro Fayez al-Serraj, Macron e o marechal Khalifa Haftar, YOAN VALAT/EPA

Emmanuel Macron juntou os líderes das duas principais facções líbias em Paris e conseguiu fazê-los assinar uma declaração em que se comprometem a organizar eleições na Primavera do ano que vem e a cumprir um cessar-fogo, embora com condições.

O primeiro-ministro Fayez al-Serraj, que lidera o Governo de União Nacional, apoiado pela ONU e reconhecido pela comunidade internacional, tem o seu centro de poder no Ocidente da Líbia, mas na verdade tem pouca representatividade no terreno, apesar de ter o apoio das milícias da cidade de Misrata, no Oeste da Líbia, e de algumas facções em Trípoli.

Mas a principal força militar na Líbia, é o marechal Khalifa Haftar, que tem o apoio do Egipto, da Rússia e dos Emirados Árabes Unidos, e tem obtido sucessivas vitórias que lhe permitem o aumento do território que controla, no Leste do país.

A última, já este mês, foi numa batalha contra os grupos armados islamistas que controlavam a segunda maior cidade líbia, Benghanzi. Mas circulam vídeos nas redes sociais que aparentemente mostram execuções de membros do Daesh por comandantes do seu autoproclamado Exército Nacional Líbio (composto por unidades militares e grupos armados tribais e regionais). Mercenários vindos do Chade e do Sudão são uma fonte adicional de combatentes para a guerra que se tornou um modo de vida na Líbia desde 2011, quando uma revolução derrubou o líder Muammar Kadhafi, com o apoio dos bombardeamentos aéreos da NATO.

A Líbia é um país estilhaçado, onde o Daesh penetrou, aproveitando-se da falta de vigilância e de autoridades, tal como outras redes que beneficiam de uma situação instável e violenta. Está minado pelo tráfico de armas e de imigrantes de várias proveniências que cruzam o Mediterrâneo em embarcações cada vez mais frágeis, depois de cruzarem o Norte de África em condições igualmente deploráveis. Abundam os relatos de prisões e de existirem verdadeiros mercados de escravos onde os migrantes sofrem abusos e são vendidos como bestas de carga.

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É neste cenário que surge a iniciativa diplomática do Presidente francês – que os media italianos dizem que fez fervilhar os ânimos do Ministério dos Negócios Estrangeiros em Roma. Além de habituado a lidar com a Líbia como antiga (breve) ex-colónia, as costas italianas são o principal destino destes imigrantes que se afogam no Mediterrâneo, porque partem da Líbia em cascas de noz, vindos dos mais variados países, procurando chegar à Europa e a uma nova vida.

O marechal Haftar é o maior obstáculo a que Serraj consiga instituir um Governo forte, apesar de ter o reconhecimento e apoio internacional. Haftar recusa-se a reconhecer a aceitar o Governo de Serraj e, há um mês, afirmou que poderia tomar a capital, Trípoli, em Dezembro. E se há muitas dúvidas sobre a figura de Haftar, o que parece claro é que tem altas ambições: quer governar a Líbia e não deverá submeter-se a um poder civil.

“O sucesso desta iniciativa diplomática está longe de estar garantido”, tinha comentado à AFP ainda antes de o documento estar assinado Mattia Toaldo, especialista em Líbia no think tank Conselho Europeu de Relações Internacionais. “Não penso que o marechal Haftar seja controlável. Ele quer governar e combaterá todos os que se lhe oponham”, disse fonte de uma organização humanitária ao jornal Le Monde. “Há que ver se ele vai respeitar o documento que assinará”, disse um diplomata.

Aparentemente, pelo menos, a iniciativa diplomática de Paris ganhou pontos em relação à de Abu Dhabi, em Maio, quando Serraj e Haftar se reuniram, igualmente, mas não assinaram documento algum.

Mas já havia bastantes meses de preparação para este encontro em Paris, ao qual Emmanuel Macron se quis associar pessoalmente - para não ficar atrás de outro Presidente francês, Nicolas Sarkozy, que se tornou uma marca indelével da intervenção internacional que ajudou a afastar Khadafi; quando visitou o país abundavam cartazes a dizer “merci Sarkozy”.

Jean-Yves Le Drian, agora ministro dos Negócios Estrangeiros e que no anterior governo socialista tinha a pasta da Defesa, considera o marechal Haftar como a principal barreira à ameaça jihadista na Líbia, e os contactos já vinham de antes, diz o Le Monde. A morte de três militares franceses na Líbia há um ano revelou o envolvimento de Paris com o militar. 

 

 

 

 

 

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