BPI: Angola e saídas de pessoal provocam prejuízo de 102 milhões

O banco agora liderado por Pablo Forero fechou o primeiro semestre com um resultado líquido penalizado pelo impacto de eventos extraordinários, como a perda do controlo do BFA e o programa de saídas voluntárias. Sem estes efeitos, o lucro fixou-se nos 188 milhões.

Foto
Pablo Forero substitui Fernando Ulrich à frente do BPI. Paulo Pimenta

O BPI sublinha, em comunicado enviado hoje ao mercado que registou no primeiro semestre de 2017 um resultado líquido consolidado de 188 milhões de euros, um aumento de 77% face aos 106 milhões de euros verificados no mesmo período de 2016.

No entanto, acrescenta, "tendo em conta o impacto pontual relacionado com a contabilização da venda de 2% e desconsolidação do BFA (-212 milhões de euros após impostos) e o custo total de 106 milhões de euros com o programa de saídas voluntárias, o resultado líquido “como reportado”, foi negativo em 102 milhões de euros".

Em Angola, está em causa a venda de 2% no Banco de Fomento Angola à Unitel de Isabel dos Santos, na sequência da exigência do Banco Central Europeu de reduzir a exposição ao risco presente naquele mercado africano. E que teve, por isso, consequências nos resultados do banco, uma vez que deixou de consolidar esta operação que se vinha revelando rentável nos últimos exercícios. Ainda assim, Angola continua a ter um impacto na actividade operacional, tendo o seu contributo nos resultados crescido no primeiro semestre de 79 para 96 milhões de euros, reconhecido por equivalência patrimonial. Um valor que representa metade dos lucros líquidos do BPI.

Em conferência de imprensa, sobre esta parceria que o BPI tem em Angola com a empresária Isabel dos Santos, o novo líder do BPI, Pablo Forero, declarou que não há para já intenção de reduzir a participação no BFA. Mas lembrou que a "a situação em Angola é muito complicada" e que há um indicação do BCE para reduzir a participação. E "assim que houver oportunidade" admite que poderão baixar a exposição. 

Já no que diz respeito às saídas de trabalhadores, o banco confirmou que "no primeiro semestre de 2017 acordaram voluntariamente a sua saída do banco 617 colaboradores, dos quais 519 correspondem ao programa de saídas voluntárias anunciado em Abril, o que implica uma redução anual futura de 36 milhões de euros nos custos de estrutura do BPI". Uma medida que surge no âmbito do plano de sinergias que o CaixaBank fixou em 120 milhões para os três primeiros exercícios após assumir o domínio do banco. E que já se traduziu também numa descida em 22 milhões de euros nos custos da estrutura para além da saída de pessoal.

Sobre este aspecto, Pablo Forero recusou, "por considerar que "não é  interessante", revelar quantas pessoas manifestaram interesse em sair do BPI. E quantos pedidos de adesão ao plano de rescisões amigáveis o banco recusou. O CEO avançou  ainda que não há intenção de voltar a mexer no quadro de pessoal.

Apesar dos dois factores negativos que pesaram nos resultados, o BPI destaca o "reforço da actividade comercial e a confiança dos clientes" que se traduziram num aumento de 1.553 milhões de euros nos recursos totais de clientes para 34.523 milhões de euros", com  destaque para o negócio de "fundos de investimento que subiram 1.042 milhões de euros (+20%) - incluindo entradas e valorizações da carteira - e para os depósitos que cresceram 315 milhões de euros (+1,6%)". 

Aliás, é a actividade comercial que justifica parte do lucro líquido, excluíndo extraordinários, do BPI, com crescimento verificado na concessão de créditos em todos os segmentos menos no hipotecário, com descida dos custos operacionais e do custos com juros dos depósitos. E ainda com a queda verificada nas imparidades de crédito, reflectindo a melhoria da qualidade da carteira. 

"A elevada qualidade da carteira de crédito permitiu uma descida das imparidades, em termos anualizados, de 35,8 milhões de euros no primeiro semestre de 2016 (0,32% da carteira de crédito) para 16,6 milhões de euros (0,15%) no primeiro semestre deste ano", explica o banco no comunicado divulgado esta terça-feira, acrescentando que "o custo do risco de crédito, medido pelas imparidades líquidas de recuperações de crédito anteriormente abatido ao activo, desceu de 28,6 milhões de euros (0,25%) para 7,5 milhões (0,07%), nos mesmos períodos".

Em termos de solidez, o BPI está em linha com as metas definidas pelas autoridades europeias, com rácios de capital de referência entre os 11,9% e os 10,9%, apesar das ligeiras descidas provocadas pelo impacto da desconsolidação do BFA.

Aos jornalistas, Forero abordou ainda a eventual mudança da marca BPI para reiterar que não é uma prioridade e não está nos seus planos, nem de curto prazo, nem num horizonte de três anos.

Texto actualizado às 18h40 com mais informação

Sugerir correcção
Comentar