Sabia que 90% das abelhas são solitárias?

Os insectos pousaram no programa da última semana do Jardim de Verão da Gulbenkian e foram reveladas várias curiosidades sobre estes animais invertebrados.

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pbc pedro cunha

São os animais mais numerosos, muito diferentes, podem matar, mas também curar. “Os insectos à nossa volta: diversos, úteis e letais” foi o tema de uma das palestras da 2ª edição do Jardim de Verão da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, que terminou na última sexta-feira e contou com o contributo de três cientistas: uma norte-americana, um checo e um português.

“As abelhas habitam a Terra há 100 milhões de anos e, apesar de só nos lembrarmos delas por causa do mel, são dos polinizadores mais importantes.” Quem o diz é a bióloga Nancy Moran, professora da Universidade do Texas e membro da Academia Nacional das Ciências dos Estados Unidos e da Academia de Artes e Ciências dos Estados Unidos.

Além de terem o corpo coberto de pêlos, aos quais facilmente aderem os grãos de pólen, a “fidelidade floral” foi outro dos aspectos evidenciado pela especialista em abelhas. Conta que a abelha-comum (Apis mellifera) é fiel à espécie de planta que selecciona polinizar, o que aumenta bastante a eficiência do transporte do pólen de uma flor para outra.

No entanto, a surpresa chega quando afirma que 90% das espécies de abelhas não vivem em sociedade com a rainha e as operárias. “A maioria das abelhas constrói e cuida do seu próprio pequeno ninho, sem se associar a outras colónias”, explica.

Apesar de a mais famosa ser a Apis melífera, a principal espécie domesticada por apicultores, Nancy Moran lembra que há muitas mais a proteger. “Conhecem-se mais 19.999 e as que têm sido realmente afectadas pelo crescente uso de agroquímicos, degradação dos habitats e expansão das espécies invasoras são as espécies selvagens”, acrescenta.

Por outro lado, Vojtech Novotny foi o ecologista checo que veio falar da riqueza da floresta tropical da Papuásia-Nova Guiné – país a norte da Austrália, que ocupa a metade oriental da ilha da Nova Guiné.

Este professor de ecologia da Universidade da Boémia do Sul, na República Checa, mostrou um diagrama das 50 mil interacções entre a vegetação tropical e as espécies herbívoras importantes na regeneração florestal da Papuásia-Nova Guiné.

“No total, há 200 árvores e 9600 espécies diferentes [na Papuásia-Nova Guiné], mas a ameaça das monoculturas de óleo de palma não tem parado de crescer”, alerta o também co-fundador e líder do Centro de Investigação Binatang da Nova Guiné, uma organização não-governamental dedicada à formação, investigação ecológica e conservação.

Entre as tantas espécies das quais poderia falar, Vojtech Novotny elegeu a borboleta Ornithoptera alexandrae – a maior do mundo. Enquanto as fêmeas têm uma coloração castanha e podem atingir os 31 centímetros de comprimento, os machos costumam ter uma tonalidade entre o verde e o azul e são mais pequenos – entre os 17 e 19 centímetros.

Quando mostrava uma fotografia, partilhou a história da primeira borboleta desta espécie a integrar a colecção do Museu de História Natural de Londres. “Como vêem, as asas desta fêmea têm umas marcas porque devido à forma como foi capturada pelo naturalista inglês Albert Stewart Meek no século XIX.”

Fascinado pela Papuásia-Nova Guiné, garante que a riqueza linguística do país não fica aquém da sua diversidade ecológica, uma vez que, numa escala de 0 a 1, possui um índice de diversidade linguística de 0,98. Já o número de Portugal, diz tê-lo surpreendido: “Fiquei admirado com o índice português de apenas 0,02.”

O investigador português, Luís Teixeira, veio chamar a atenção para a importância de apostar na investigação dos insectos para a prevenção de doenças. Para o comprovar, apresentou um gráfico que mostra que os mosquitos são a maior ameaça para o ser humano, sendo responsáveis por 725 mil mortes anuais.

O que já se faz para travar propagação de doenças como a febre de dengue ou o vírus zika? O investigador do Instituto Gulbenkian de Ciência, em Oeiras, introduz o nome de uma bactéria capaz de fortalecer os mosquitos contra os vírus: a Wolbachia.

“Já foram realizados testes no Brasil e na Colômbia, com a libertação de mosquitos com esta bactéria para evitar a transmissão da dengue e do zika”. A Wolbachia é uma bactéria que não é perigosa para os humanos e é muito comum entre invertebrados, nomeadamente insectos. “Nos casos daqueles que não a possuem e são potenciais transmissores de doenças, há trabalho a ser desenvolvido para a Wolbachia seja transferida.”

“Com o aumento da temperatura, a área de distribuição dos mosquitos tende a aumentar”, por isso Luís Teixeira garante que as alterações climáticas irão redobrar a atenção dedicada aos insectos.

No entanto, o sucesso do método não está garantido. O caso da malária ainda é uma dor de cabeça para os cientistas, visto que há mosquitos que têm outra substância que inibe a actuação da Wolbachia.

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