Falta de praia naturista legalizada no Norte leva praticantes para a Galiza

A Praia da Barra, em Cangas de Morrazo, perto de Vigo (Espanha), é uma das mais requisitadas para naturistas portugueses do Norte.

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MANUEL ROBERTO

A inexistência de praias naturistas legalizadas no Norte de Portugal obriga milhares de naturistas desta região a debandarem para as praias da Galiza (Espanha) para a prática de nudismo.

Em entrevista à Lusa, o presidente da Federação Portuguesa de Naturismo (FPN), Rui Elvas, refere que apesar de haver milhares de naturistas na região, esses veraneantes têm de se deslocar para a Galiza, a zona mais próxima com areais legalizados para o nudismo.

A Praia da Barra, em Cangas de Morrazo, perto de Vigo (Espanha), é uma das mais requisitadas para naturistas portugueses do Norte que até aos fins-de-semana se deslocam àquele areal para poderem usufruir da natureza sem os têxteis colados ao corpo, descreve o presidente da FPN.

A comunidade nortenha "é mais conservadora" e "tradicional" e ainda "não vê com bons olhos espaços naturistas junto às zonas de comércio ou de habitação", observa Rui Elvas, referindo que a leitura dessa realidade sociológica é fruto de conclusões retiradas dos congressos internacionais de adeptos de naturistas. Uma conclusão que é refutada pelo presidente da entidade Turismo do Porto e Norte de Portugal, Melchior Moreira. "Não somos um destino conservador, muito pelo contrário. Temos revelado ser uma região muito aberta à evolução social e religiosa. Temos todas as condições para receber, da melhor forma, novas opções turísticas e nichos de mercado", sustenta este responsável.

Na região Norte, o único espaço onde é tolerado o "uso e costume naturista [práticas de vida em que é utilizado o nudismo] é a Praia da Estela, no concelho da Póvoa de Varzim, próxima do camping da Orbitur de Rio Alto.

A par de uma alegada sociedade mais conservadora, ou simplesmente por ser um fenómeno cultural, outra das razões para o Norte não ter uma única praia oficial para a prática de naturismo é o facto de não existir nenhuma associação naturista na região, argumenta Rui Elvas

"Infelizmente é esta a realidade", lamenta, avançando que a FPN está a tentar desenvolver e viabilizar a criação de um clube de naturistas no Norte, com o objectivo de identificar as praias propícias para a prática de naturismo e, posteriormente, proceder ao pedido de legalização.

Os pedidos de legalização têm de ser feitos nas juntas de freguesia e câmaras municipais e carecem, depois, de aprovação nas Assembleias Municipais. "É essa ponte entre clubes naturistas e federação que é necessária para oficializar as praias, explica. "Defendo claramente que haja praias legalizadas no Norte de Portugal e que as associações se unam para fazer esse trabalho, porque são públicos muito interessantes e importantes para a promoção do nosso território", defende por seu lado o líder da entidade responsável pela política de turismo de toda a região norte, Melchior Moreira. 

Há cerca de dez ou 15 anos houve um clube de naturistas no Norte, mas durou cerca de dois anos e depois fechou por divergências, contou o presidente da FPN.

"É uma lacuna que existe a Norte", reforça aquele responsável, frisando que, sem organização das pessoas, nem vontade política das autarquias, nunca haverá praia, nem unidade hoteleiras oficiais, para naturistas no Norte.

Em Portugal, segundo a página da FPN, há oito praias oficiais para a prática de naturismo, sendo três no concelho de Lisboa, três no Algarve e duas no Alentejo.

Não há nenhum espaço de hotelaria dedicado ao naturismo em Portugal, há apenas dois parques nacionais – na Quinta do Maral, Marvão, que foi primeiro o espaço naturista oficial registado no país e que é gerido por portugueses, e o Monte Barão, em Ermidas do Sado, que é gerido por um casal holandês, recorda Rui Elvas.

Na lei actual indica-se que por naturismo se entende "o conjunto das práticas de vida em que é utilizado o nudismo como forma de desenvolvimento da saúde física e mental dos cidadãos, através da sua plena integração na natureza".

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