Chico por Zambujo, agora rumo ao Brasil

Em António Zambujo a cantar Chico Buarque, o espectáculo perde em comparação com o disco, mas também há nele momentos de antologia, a reter.

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António Zambujo, Bernardo Couto, Marcello Gonçalves e João Moreira MIGUEL MANSO
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António Zambujo, Marcello Gonçalves e José Miguel Conde MIGUEL MANSO
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Ricardo Cruz MIGUEL MANSO
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Bernardo Couto MIGUEL MANSO
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António Zambujo, Bernardo Couto, Marcello Gonçalves e João Moreira MIGUEL MANSO

Foi com um coliseu confortavelmente cheio que António Zambujo encerrou, em Lisboa, no dia 21 de Julho, as apresentações do seu espectáculo Até Pensei Que Fosse Minha, baseado integralmente, como o disco que lhe dá nome, em canções de Chico Buarque. Não sendo tarefa fácil, dado o peso e a força da matriz original, Zambujo enfrentou o desafio como se a música fosse dele, para glosar o título, e se o espectáculo perde em comparação com o disco, também há nele alguns momentos de antologia, a reter.

Percorrendo o disco na quase totalidade (das 16 canções gravadas só ficou de fora Sem fantasia), António Zambujo abriu com Futuros amantes, numa vocalização a lembrar nalgumas passagens a de Fausto, continuou com Folhetim e Geni e o Zepelim (uma das menos conseguidas, devido a uma interpretação demasiado afectada) e, depois, deu a ouvir aquela que é aqui a sua coroa de glória: Cecília, seguida de Joana francesa. Tudo isso com todos os cinco músicos em palco: Marcello Gonçalves, do Trio Madeira Brasil (violão de 7 cordas), Bernardo Couto (guitarra portuguesa), Ricardo Cruz (contrabaixo), João Moreira (trompete) e José Miguel Conde (clarinete). O momento voz & violão que se seguiu teve João e Maria, Até pensei, Morena dos olhos d’água e Mambembe, a primeira da noite extra-disco. E aqui, sim, o espectáculo ganhou densidade e nervo: ouvimos Qualquer canção só voz e sopros, em semi-obscuridade; Tatuagem em voz e contrabaixo; Teresinha, só voz e guitarra portuguesa; e, por fim (esta já do disco), Cálice com um arranjo excelente para palco mas idêntica progressão sonora à do disco: primeiro a voz à capela, entrando de leve o trompete, depois violão, depois contrabaixo com arco. De Mambembe a Cálice, foi o momento mais conseguido e surpreendente da noite. E Cálice é, sem dúvida, outra das grandes interpretações que Zambujo consegue de Chico.

Nina ainda seguiu um pouco a linha anterior, tal como Januária (esta só voz, violão e clarinete), seguindo-se O meu amor e Tanto mar, essa simbólica conexão transatlântica. No espectáculo, ainda se cantou Parabéns ao violonista brasileiro Marcello Gonçalves, que fazia anos naquele dia. Zambujo disse, sem sublinhar que era ironia, que ele fazia 74 anos, mas está muito longe disso: fez 45, pois nasceu em 21 de Julho de 1972.

O encore trouxe-nos duas valsas, cantadas com sentimento: Todo o sentimento era, aliás, o título da primeira, a que se seguiu a muito aplaudida Valsinha. O espectáculo terminou com samba, Injuriado, com o trompetista e o contrabaixista de pé e os restantes músicos (Zambujo incluído) sentados no chão, na beira do palco. Fez-nos sentir em casa e, ao mesmo tempo, imaginar um sincero apertar de laços nas artes de Portugal e Brasil, para onde este espectáculo segue, em Novembro. Será um outro olhar, neste elo que nos une.

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