PT activa "planos de contingência" para greve que sindicato prevê ter "forte adesão"

Situação na PT é debatida hoje no Parlamento.

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LUSA/HOMEM DE GOUVEIA

A greve dos trabalhadores da PT, agendada para sexta-feira contra a transferência de funcionários para outras empresas, deverá ter "forte adesão", disse à Lusa o sindicalista Jorge Félix, enquanto a operadora já activou os "devidos planos de contingência".

"Esta greve deverá ter uma forte adesão", afirmou Jorge Félix, presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Grupo Portugal Telecom (PT), salientando que "há mais de 10 anos que a empresa não marcava uma greve conjunta de todos os sindicatos e Comissão de Trabalhadores".

"A PT activou os devidos planos de contingência e de redundância que nos permitirão assegurar técnica e humanamente todos os serviços que prestamos aos nossos clientes", disse, por sua vez, fonte oficial da operadora à Lusa.

Em 30 de Junho foi tornado público que a PT Portugal iria transferir 118 trabalhadores para empresa do grupo Altice - Tnord e a Sudtel - e ainda para a Visabeira, utilizando a figura de transmissão de estabelecimento, cujo processo estará concluído no final deste mês.

Antes, no início de Junho, a operadora, comprada pelo grupo francês Altice há dois anos, tinha anunciado a transferência de 37 trabalhadores da área informática da PT Portugal para a Winprovit.

"O clima entre trabalhadores e a [equipa de] gestão tem vindo a degradar-se", afirmou Jorge Félix, acrescentando que "os trabalhadores têm sérias dúvidas quanto ao futuro da Tnord e da Sudtel, já que são empresas de pequena dimensão e não se sabe qual é a sua capacidade financeira" daqui a um ano, altura em que terminam os direitos que os trabalhadores tinham na PT Portugal.

Ou seja, a transmissão de estabelecimento prevê que os trabalhadores transferidos mantenham os direitos durante 12 meses.

"É claro que há uma lacuna na lei", já que não prevê "que os trabalhadores tenham a opção de se opor" a esta medida, afirmou o sindicalista.

"Não se sabe se estas empresas, com excepção da Visabeira, daqui a um ano poderão continuar a garantir os salários ou ter capacidade financeira", continuou.

Além disso, "não existe um mecanismo que permita ao trabalhador regressar à PT Portugal", disse Jorge Félix.

"Receamos que a empresa esteja a usar esta lei de uma forma subjectiva", de forma a "reduzir custos" e transferir trabalhadores "para empresas que mais tarde poderão fazer despedimentos", afirmou, recordando que recentemente o presidente do Conselho de Administração da PT Portugal, Paulo Neves, tinha admitido continuar a fazer mais transferências de trabalhadores para outras empresas, caso tal se justificasse.

"Além disso, é preciso recordar que há mais de 300 trabalhadores sem funções, uma situação que configura assédio moral, levando alguns trabalhadores a uma situação de desespero em que aceitam indemnizações de baixo valor", acusou o sindicalista.

Perante isto, Jorge Félix estima que haja "uma forte adesão" à greve, nomeadamente porque "há a ideia" de que este tipo de iniciativas poderá afectar outras áreas da operadora de telecomunicações.

"A empresa já deu a entender que quer continuar nesta linha", disse.

Nos últimos dias, os trabalhadores da PT Portugal têm realizado várias acções de protesto que culminam na próxima sexta-feira com a greve geral, que começa às 0h.

Dos 118 trabalhadores sob regime de transmissão de estabelecimento, 96 trabalhadores são projectistas (desenham traçados de rede) e 22 são do Centro de Certificação Técnica de Torres Novas.

Do total de projetistas, 74 são transferidos para a Altice Technical Services (ATS), ficando divididos entre as empresas Tnord e a Sudtel, e os restantes 22 vão para o grupo Visabeira, antiga accionista da operadora e parceira histórica.

Já os 22 trabalhadores do Centro de Certificação Técnica vão para a ATS.

A Lusa questionou a PT Portugal sobre o plano de contingência para a paralisação de sexta-feira, mas até ao momento não obteve resposta.

Durante a tarde de hoje decorrerá no Parlamento um debate de actualidade sobre a "Privatização da PT, situação dos trabalhadores, concentração e domínio monopolista", por iniciativa do PCP.

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