SIRESP volta a falhar em incêndio no concelho de Alijó

Autarca queixou-se de dificuldades nas comunicações e a Protecção Civil, que admitiu “falhas pontuais”, mobilizou estação móvel que estava pré-posicionada no Porto. Idosos e crianças foram retirados da aldeia.

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LUSA/PEDRO COSTA

Um mês depois dos incêndios de Pedrógão Grande, em que morreram 64 pessoas, o SIRESP (Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança) voltou a falhar, na tarde deste domingo, durante o combate ao fogo que deflagrou em Alijó, distrito de Vila Real, e que, à hora do fecho desta edição, tinha queimado duas viaturas e obrigado à retirada de seis adultos e cinco crianças da aldeia de Vila Chã.

Ao final da tarde, o presidente da Câmara de Alijó, Carlos Magalhães, queixava-se ao PÚBLICO das falhas naquela rede concebida para assegurar as comunicações de emergência entre os operacionais das diferentes forças no terreno. “O sistema entrou em modo local, o que está a dificultar as comunicações no terreno. Estive duas horas sentado só a ouvir e apercebi-me que a comunicação falha constantemente: não sabemos exactamente onde está posicionada cada equipa, onde está a arder. Às tantas, só recorrendo aos telemóveis”, criticou Carlos Magalhães.

Pouco depois, a Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC) confirmava, pela voz da adjunta do comando nacional, Patrícia Gaspar, que tinha sofrido “falhas pontuais” no SIRESP, após o que foi mobilizada a estação móvel que estava pré-posicionada no distrito do Porto e que deveria ajudar a suprir novas falhas.

“Não foi uma falha global”

Dizendo não dispor de informações quanto aos motivos das falhas no SIRESP, a responsável da ANPC asseverou que “não foi uma falha global” e sublinhou que a rede SIRESP não era a única no teatro de operações. Para conseguirem comunicar entre si, os bombeiros recorreram à sua rede própria, a ROB — Rede Operacional de Bombeiros, que, adiantou Patrícia Gaspar, “esteve sempre a funcionar”. Esta não garante, porém, comunicações atempadas entre as diferentes forças no teatro de operações. De resto, ao início da noite, a ANPC não conseguia precisar quando é que a estação móvel do SIRESP estaria em condições de ser activada.

A retirada de idosos, acamados e crianças da aldeia de Vila Chã foi decidida para “evitar o pior”, segundo o autarca Carlos Magalhães, e numa altura em que se contavam já duas viaturas ardidas, além de armazéns agrícolas, anexos e quintais. Carlos Magalhães especificou que as pessoas foram acolhidas no pavilhão gimnodesportivo de Alijó, onde os aguardava uma equipa de apoio. “Foram acomodados e, dentro do possível, estão bem”, asseverou ao PÚBLICO, numa altura em que a aldeia estava ainda coberta pelo fumo e as chamas cercavam a zona. Apesar disso, o comandante dos bombeiros de Alijó, José Carlos Rebelo, disse que nenhuma localidade foi evacuada por inteiro porque o incêndio não o justificava.

Ainda assim, contavam-se ao início da noite mais duas aldeias na “linha do fogo”, Casas da Terra e Carvalho, para onde foram preventivamente mobilizados alguns meios, isto depois de o fogo ter atingido parcialmente uma fábrica, na zona industrial de Alijó, e feito rebentar várias garrafas numa adega.

Por volta das 21h30, contavam-se 349 operacionais no combate a este incêndio, auxiliados por 109 viaturas e três meios aéreos. O fogo, que deflagrara durante a madrugada numa zona de mato, chegou a ser dado como dominado, mas, durante a tarde, voltou a reactivar-se, muito por causa do “vento forte e do terreno, com muitas resinosas”, indicou o autarca.

Oito meios aéreos a combater o fogo

Chegaram a estar oito meios aéreos no combate ao fogo, estando ainda por esclarecer as circunstâncias que rodearam o incidente que, a meio da tarde, se verificou com um helicóptero. O aparelho, um helicóptero Ecureuil AS350B3 que integra o dispositivo especial de incêndios florestais, “estava empenhado no ataque ao incêndio rural”, segundo a ANPC, quando às 15h43, o piloto detectou um problema “durante a manobra de enchimento do balde”, na margem da albufeira da barragem de Vila Chã.

O piloto, que sofreu apenas escoriações ligeiras, iniciou “prontamente o despiste das causas da anomalia no seu funcionamento”, tendo sido deslocada uma equipa de peritos do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários para o local. A GNR, por seu turno, isolou a zona do acidente para efeito da preservação dos indícios e elaborou o respectivo relatório, sendo certo, segundo a ANPC, que “os procedimentos de emergência previstos para responder a este tipo de situações foram acautelados pelo piloto, tendo sido desligados os circuitos eléctricos e de alimentação de combustível”.

O incêndio de Alijó não era o único a suscitar as preocupações das autoridades ao início da noite deste domingo. Em Mangualde, Viseu, um incêndio destruiu uma casa de campo e obrigou a retirar pessoas de aldeia de Contenças de Cima. Segundo o presidente da Câmara de Mangualde, João Azevedo, as localidades de Santiago de Cassurrães, Póvoa de Cervães, Abrunhosa-a-Velha, Póvoa de Cervães, Cunha Baixa e Abrunhosa do Mato estavam, ao final da tarde, ameaçadas pelas chamas. “Já ardeu uma casa de segunda habitação, entre Póvoa de Cervães e Abrunhosa-a-Velha”, disse à Lusa João Azevedo, referindo ainda que se registam danos “em zonas e equipamento agrícola”.

Ao final da tarde, altura em que não tinha sido activado o Plano de Emergência Municipal, o site da ANPC contava 304 bombeiros, 88 viaturas e cinco meios aéreos no combate aos três incêndios que deflagravam no concelho de Mangualde.      

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