Wim Wenders diz-se honrado com o Prémio Helena Vaz da Silva

O cineasta vai estrear em 2018 um filme sobre o Papa Francisco.

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Reuters/STEFANIE LOOS

O realizador alemão Wim Wenders, distinguido com Prémio Europeu Helena Vaz da Silva para a Divulgação do Património Cultural 2017, afirmou que se identifica com os princípios do galardão e sente-se honrado pela atribuição. Em comunicado difundido pelo Centro Nacional de Cultura (CNC), o realizador afirma-se “profundamente grato”.

“Estou profundamente grato por este prémio, porque me identifico com os princípios que lhe estão subjacentes”, afirma o realizador de Lisbon Story, filme que contou com a participação de Amália Rodrigues e a banda sonora do grupo Madredeus. “A Europa é uma utopia em curso, construída, mais do que por qualquer outra coisa, pelo seu legado cultural. Temos de continuar a construir o nosso futuro comum, mas, nesse processo, não podemos deixar esquecida a preservação do nosso passado”, prossegue o cineasta, que tem sido convidado pela Comissão Europeia e pelo Parlamento Europeu para participar em diversos debates sobre assuntos europeus da actualidade.

“Os meios de comunicação digital tornam essa comunicação muito mais rápida, mas são igualmente rápidos a incitar ao esquecimento”, adverte Wenders, acrescentando que, todavia, “esses meios ajudam-nos também a armazenar e a preservar as nossas preciosas lembranças de forma duradoura e eficaz, como acontece no reino do cinema, por exemplo”.

O cineasta tem participado na iniciativa “Uma Alma para a Europa”, que promove a ligação de cidadãos com instituições democráticas em toda a Europa, com o objectivo de promover o sentido de responsabilidade pelo futuro do continente e pela democracia através da Cultura, refere o CNC, que instituiu o Prémio em 2013, em cooperação com a organização não-governamental Europa Nostra e o Clube Português de Imprensa.

O cineasta alemão e a mulher, Donata, criaram em 2012 a Fundação Wim Wenders, com sede em Düsseldorf. Esta fundação tem por objectivo “criar um quadro juridicamente vinculativo para reunir o trabalho cinematográfico, fotográfico, artístico e literário de Wenders no seu país, e torná-lo acessível de forma permanente ao público de todo o mundo”. Todas as receitas são utilizadas para financiar o objectivo central da fundação: a promoção de artes e cultura, não só através do restauro, disseminação e preservação do trabalho de Wenders, mas também através do apoio a jovens talentos no campo do cinema, segundo a mesma fonte.

O Prémio Europeu com o nome de Helena Vaz da Silva (1939- 2002) é uma homenagem à jornalista, escritora, divulgadora cultural e eurodeputada portuguesa, e à “sua notável contribuição para a divulgação do património cultural e dos ideais europeus”. Atribuído, desde 2013, anualmente, a um cidadão europeu cuja carreira se tenha distinguido pela difusão, defesa, e promoção do património cultural da Europa, distinguiu, nas edições anteriores, o escritor italiano Claudio Magris (2013), o escritor turco Orhan Pamuk (2014), Nobel da Literatura em 2006, e o músico espanhol Jordi Savall (2015). No ano passado o prémio foi entregue, ex-aequo, ao cartoonista francês Jean Plantureux, “Plantu”, e ao ensaísta português Eduardo Lourenço.

Carreira com 50 anos

Wim Wenders dirigiu mais de 60 filmes, numa carreira iniciada há 50 anos. Sem ser os trabalhos que fez ainda antes de terminar a sua formação na Escola Superior de Cinema e Televisão de Munique, o cineasta começou por filmar em 1971 A Angústia do Guarda-Redes no Momento do Penalty, a partir da novela do austríaco Peter Handke, escritor com o qual tem mantido estreita colaboração, seguindo-se, no ano seguinte, A Letra Escarlate, sobre o romance do norte-americano Nathaniel Hawthorne.

Com Alice nas Cidades (1974), Wenders iniciou a chamada "trilogia da estrada", que passaria por Movimento em Falso (1975) e Ao Correr do Tempo (1976). No ano seguinte, dirigiu O Amigo Americano, inspirado no romance de Patricia Highsmith, uma homenagem ao cinema negro norte-americano, que contou com um dos seus heróis, o realizador Nicholas Ray, que dirigira Johnny Guitar e Fúria de Viver, e de quem viria a documentar os últimos dias, em Nick's Movie - Lightning Over Water.

Em 1982 foi a vez de Hammett, uma ficção sobre o escritor Dashiell Hammett, que rodou nos Estados Unidos, com o Zoetrope Studios, de Francis Ford Coppola, em conflito com o sistema norte-americano de produção. Quase em simultâneo, transportou essa realidade para O Estado das Coisas, o primeiro filme de Wenders rodado em Portugal, e uma das primeiras produções internacionais de Paulo Branco. O acto de rebeldia viria a ser compensado com a conquista do Leão de Ouro, do festival de Veneza.

É o tempo dos filmes da consagração: Paris, Texas (1984), Palma de Ouro em Cannes, Tokyo-Ga (1985), sobre Yasujiro Ozu, As Asas do Desejo (1987), também distinguido em Cannes, pela melhor realização.

Na década de 1990, Wenders passou a cruzar cada vez mais as longas-metragens de ficção, como Até ao Fim do Mundo (1991) – que também teve rodagem em Portugal –, Tão Longe, Tão Perto (1993) e Crimes Invisíveis (1997), com 'curtas' e filmes de carácter documental, que impõem igualmente a reflexão sobre o cinema e o que o rodeia, trate-se de Lisbon Story (1994), Buena Vista Social Club (1999) ou o mais tardio The Soul of a Man (2003), sobre os blues e Blind Willie Johnson.

A tendência prosseguiu nas duas últimas décadas, com obras de ficção como Terra da Abundância (2004), Estrela Solitária (2005), Imagens de Palermo (2008), Tudo Vai Ficar Bem (2015) e Os Belos Dias de Aranjuez (2016), a alternarem com produções documentais como Pina (2011), sobre a coreógrafa alemã Pina Bausch, que foi nomeada para o Óscar de melhor documentário, ou O Sal da Terra, filme dedicado ao fotógrafo Sebastião Salgado.

Submergence, que completou este ano, e o filme sobre o Papa Francisco, A Man of His Word, a estrear em 2018, são as mais recentes obras do realizador.

Wenders, que presidiu a Academia de Cinema Europeu depois de Ingmar Bergman, recebeu, entre outros prémios, o Leopardo de carreira, no Festival de Locarno, e o Urso de Ouro honorário, do Festival de Berlim.

Em 2015, foi homenageado no Lisbon & Estoril Film Festival. O realizador esteve em Lisboa, para apresentar Tudo Vai Ficar Bem, que exibiu em 3D, e a exposição de fotografia À Luz do Dia até os Sons Brilham, com as imagens de Portugal que captou.     

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