Se tudo for só por causa da viagem e do jogo

Estas demissões no Governo são um péssimo sintoma sobre o ponto em que estamos. Mas tornaram-se inevitáveis quando o próprio Governo lhes pôs um carimbo de culpa.

1. As saídas de Rocha Andrade, João Vasconcelos e Jorge Costa Oliveira são um murro no estômago para António Costa. Pessoalmente, porque os três são amigos dele. Politicamente, porque eram elementos importantes em três ministérios-chave — os olhos e ouvidos do primeiro-ministro nas Finanças, Economia e no MNE. Dois deles trabalharam muitos anos na política ao lado de Costa — e copiaram-lhe o estilo: Rocha Andrade era o mais político da equipa das Finanças; João Vasconcelos o mais político na Economia. Em qualquer dos casos, não será fácil encontrar substituição à medida. No caso do Fisco, com as negociações do próximo Orçamento a caminho, mais difícil ainda.

2. As saídas de Rocha Andrade, João Vasconcelos e Jorge Costa Oliveira são um péssimo sintoma sobre o ponto em que estamos. Porque qualquer dia não há político que dê um passo sem antes perguntar à PGR se o pode dar para a frente — ou se tem que dar dois atrás primeiro. Por este andar, qualquer dia restam-nos os miúdos das Jotas ou os líderes das concelhias para subir ao Governo (para eles, qualquer viagem conta, mesmo que seja só até à Gomes Teixeira, para saber como é um conselho de ministros).

3. As saídas de Rocha Andrade, João Vasconcelos e Jorge Costa Oliveira tornaram-se inevitáveis, porque o Governo, este Governo, não conseguiu resistir à pressão nem sequer proteger os seus. Nem da oposição de direita nem da sua amiga esquerda. Quando, na sequência da polémica, António Costa mandou publicar um Código de Conduta proibindo qualquer governante de receber qualquer coisa acima de 150 euros, deixou-os a prazo, à espera deste final da investigação. Já tinham o carimbo de culpa em cima.

4. As saídas de Rocha Andrade, João Vasconcelos e Jorge Costa Oliveira são mais uma prova de uma classe política sem um antivírus para o moralismo — e com medo do que o povo pensa de si. Mas são demissões cuja única responsabilidade tem que ser assacada ao legislador (e não ao Ministério Público). Se hoje há políticos arguidos por isto, se a classe política se pôs de cócoras fazendo leis que culpam alguém por ter vantagem, mesmo sem prova de contrapartida, não pode queixar-se de mais ninguém.

5. Mas as saídas de Rocha Andrade, João Vasconcelos e Jorge Costa Oliveira podem, também, ser o contrário de tudo isto. Se nos mostrarem que disseram o que não deviam, prometeram o que não podiam, deram o que não é aceitável à Galp — mesmo depois de toda a polémica. Mas aí, meus amigos, esqueçam os políticos. E façam uma lei para nos proteger dos homens.

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