Médicos, activistas e Ai Weiwei pedem à China que deixe sair Liu Xiaobo

Foi um dos impulsionadores do movimento pró-democracia de Tiananmen, ganhou o Nobel da Paz, está detido e sofre de cancro terminal. Pediu para partir, juntamente com a mulher.

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Liu Xaobo e a mulher numa foto de 2010 Reuters

Liu Xiaobo, o mais famoso preso político chinês que está a morrer de cancro no fígado, pediu às autoridade de Pequim que o deixem sair do país para receber tratamento paliativo. Os médicos ocidentais que foram autorizados a vê-lo e activistas de direitos humanos fizeram o mesmo apelo – sem êxito, até agora.

As autoridades chinesas argumentam que o estado de saúde de Liu não permite a viagem. Porém, o oncologista da Universidade do Texas Joseph M. Herman, e o especialista em cirurgias a tumores pancreáticos Markus Büchler, da Universidade de Heidelberg, disseram num comunicado que a viagem é possível e deve ser feita imediatamente.

"Apesar de haver algum nível de risco ao mover-se o doente, os dois médicos acreditam que pode ser transportado em segurança com o devido cuidado e apoio médico", disseram num comunicado conjunto citado pela BBC. "Contudo, isto terá que acontecer o mais depressa possível".

Liu Xiaobo foi um dos principais promotores do movimento pró-democracia que culminou na repressão na Praça Tiananmen, em Pequim, em 1989. Em 2009, depois de ter assinado um manifesto pela democracia e o respeito pelos direitos humanos, foi considerado culpado de crimes de subversão e condenado a 11 anos de cadeia. Após sete anos de prisão, foi levado para um hospital devido à progressão do cancro no fígado e está em fase terminal.  

Pela sua luta "persistente e não violenta", foi-lhe concedido o Prémio Nobel da Paz em 2010 – na cerimónia,foi representado por uma cadeira vazia, depois de Pequim não lhe ter dado autorização para receber o prémio.

Após o Nobel, a sua mulher, a poeta Liu Xia, foi posta em prisão domiciliária. Os seus movimentos são agora limitados e Liu quer levá-la consigo para fora da China.

Organizações não governamentais de defesa dos direitos humanos condenaram o Governo chinês por não aceitar a recomendação dos médicos ocidentais. Nicholas Bequelin, director para a Ásia da Amnistia Internacional, disse que o comunicado dos médicos "expõe a mentira das autoridades e o seu argumento de que Liu está demasiado doente para ser transferido". Pediu ao Presidente chinês, Xi Jinping, para deixar partir o activista imediatamente.

"Só uma pessoas tem autoridade para decidir o destino de Liu Xiaob, Xi Jinping", disse Bequelin. "Os dirigentes em Pequim deviam fazer o que já deviam ter feito há muito: calcular friamente quais são os riscos e os benefícios e deixar Liu Xiaobo ir para o estrangeiro para ser tratado, concluindo que deixá-lo partir é do interesse de todos".

Este domingo, o artista chinês Ai Weiwei juntou-se aos apelos. "Penso que o Governo chinês deve libertá-lo. Este é um erro histórico", disse ao The Guardian a partir de Berlim.

Jared Genser, o advogado dos Estados Unidos que representa Liu, disse que ao não permitir que o dissidente procure, no estrangeiros, tratamentos que lhe prolonguem a vida, Xi será visto como a pessoa que deliberadamente lhe encurtou a vida. "Na minha opinião, se Xi não [o deixar sair], isso será visto pela opinião pública como uma decisão insensível que colocará a China numa posição de fraqueza", disse ao Guardian o advogado que já trabalhou com outros dissidentes, por exemplo a birmanesa Aung San Suu Kyi.

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