Museu Nacional de Arte Antiga está parcialmente encerrado por falta de vigilantes

Para contornar a "situação atípica", causada pela baixa médica simultânea de sete funcionários, a Direcção-Geral do Património Cultural vai recorrer à contratação externa. O museu reabrirá "no mais curto espaço de tempo".

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Em Novembro de 2016, a queda da escultura barroca do Arcanjo São Miguel, provocada por um visitante, levou a que fosse questionada a quantidade de vigilantes empregados pelo museu Nuno Ferreira Santos

A Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) indicou esta quinta-feira que o Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), em Lisboa, vive uma "situação atípica" de falta de vigilantes, e que vai recorrer à contratação externa para reabrir as salas fechadas. Contactada pela agência Lusa, a DGPC confirmou o encerramento da maioria das salas do museu, justificando que "se deve à circunstância de se encontrarem sete vigilantes de baixa médica".

"Perante este facto, o encerramento temporário de algumas salas afigurou-se inevitável, de modo a preservar a segurança da colecção. A solução para esta situação atípica é a contratação externa de vigilantes, processo que a DGPC desencadeou de imediato, prevendo-se que o MNAA possa retomar o seu normal funcionamento no mais curto espaço de tempo", afirma a entidade que tutela museus, palácios e monumentos nacionais, num comunicado enviado às redacções.

O museu, que acolhe a mais relevante coleção pública de arte antiga portuguesa, tem desde há algumas semanas a maioria das salas de exposição fechadas ao público por falta de vigilantes. No seu site foi colocado um aviso explicando que, de terça-feira a sexta-feira, estão totalmente encerrados os pisos 1 e 2, que acolhem as exposições de mobiliário português, artes decorativas francesas, ourivesaria, joalharia, arte da expansão e cerâmica. Também está encerrado diariamente, entre as 12h e as 15h, o piso 3, com a colecção de pintura e escultura portuguesas, onde se encontram algumas das peças mais importantes do museu, entre as quais os Painéis de São Vicente. O museu pede "desculpas pelo incómodo" aos visitantes, justificando o encerramento ao público com a "falta de assistentes técnicos (vigilantes/recepcionistas)". Contactado pela agência Lusa, o director do MNAA, António Filipe Pimentel, não quis prestar declarações sobre o encerramento das salas.

Em Novembro do ano passado, um turista que visitava a exposição de escultura e pintura antiga do MNAA, ao recuar para tirar uma fotografia, derrubou, acidentalmente, uma escultura oitocentista do Arcanjo São Miguel, que sofreu fracturas e perdas da camada policromada. A obra foi depois enviada para o Laboratório José de Figueiredo para avaliação dos danos, e reparada no museu por uma equipa multidisciplinar, tendo regressado à exposição permanente em Maio.

Na sequência do acidente, o ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, chegou a ser questionado, no parlamento, sobre o acidente, e a eventualidade de este ter tido na origem a falta de vigilantes no museu. Na altura, o responsável pela tutela sustentou que o acidente "não resultou da falta de vigilância, porque havia um vigilante perto que até avisou o visitante". Pouco tempo depois, a tutela anunciou a abertura de concursos para o preenchimento de vagas de vigilantes em museus, entre eles o MNAA, com o reforço de mais três funcionários.

O MNAA tem sofrido ciclicamente falta de vigilantes durante o período de Verão, quando começa a época de férias dos funcionários, e os directores do museu foram por várias vezes forçados a fechar salas, devido à falta de segurança. Em 2007 e 2008, respectivamente, Paulo Henriques e Dalila Rodrigues, então directores, encerraram salas expositivas, apesar das queixas dos visitantes, impedidos de entrar.

O MNAA foi o segundo museu mais visitado no primeiro trimestre deste ano, com cerca de 47 mil visitantes (um aumento de 1,8 por cento em relação a 2016), logo a seguir ao Museu Nacional dos Coches, com 70 mil visitantes, que lidera habitualmente as entradas nos museus da Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC). Os monumentos, museus e palácios nacionais receberam mais de 4,6 milhões de visitantes no ano passado, num aumento de 15,5% em relação a 2015, segundo dados divulgados pela DGPC no início do ano.

Criado em 1884, o MNAA acolhe a mais relevante colecção pública de arte antiga do país, de pintura, escultura, artes decorativas portuguesas, europeias e da Expansão Marítima Portuguesa, desde a Idade Média até ao século XIX, e é um dos museus com maior número de obras classificadas como tesouros nacionais.

Além dos Painéis de São Vicente, de Nuno Gonçalves, o acervo integra ainda, entre outros tesouros, a Custódia de Belém, de Gil Vicente, mandada lavrar por D. Manuel I, datada de 1506, e os Biombos Namban, do final do século XVI, que registam a presença dos portugueses no Japão. Hieronymous Bosch, Albrecht Dürer, Piero della Francesa, Hans Holbein, o Velho, Pieter Bruegel, o jovem, Lucas Cranach, Jan Steen, van Dyck, Murillo, Ribera, Nicolas Poussin e Tiepolo são alguns dos mestres europeus representados na coleção do MNAA.

Em 2016, o MNAA somou 175.578 visitantes, mantendo o segundo lugar na lista dos mais visitados museus nacionais.

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