À espera de um herói (que não vai aparecer)

A terceira temporada de Gotham estreia-se esta terça-feira na Fox.

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Quem é quem nesta Gotham antes de Batman? DR

Há quem diga que os produtores de James Bond estão a pensar num universo cinemático à volta dele. Vamos fazer esse exercício. Pode incluir o agente 006, o agente 008, um jovem Bond, um Bond reformado, o engenhocas Q, uma liga de vilões com Scaramanga, Blofeld e Jaws, as aventuras de Moneypenny para lá da secretária do MI5 – pode até haver uma série de televisão sobre o primeiro agente com licença para matar que seria, claro, o 001. Não passa (por enquanto) de um rumor, mas esta é uma tendência quase asfixiante na indústria do entretenimento, o dos universos em expansão. Às vezes só basta um nome. Uma série de TV sobre Batman em que Batman não aparece? Vamos a isso.

É exactamente isso que é Gotham, cuja terceira temporada estreia nesta terça-feira na Fox (22h15). Uma série em que pensamos em Batman a toda a hora, mas só vemos o jovem Bruce Wayne e pensamos que, muito provavelmente, só será verdadeiramente o Cavaleiro das Trevas no último episódio da última temporada. Não há Batman, mas há a cidade (Gotham) e há um herói, que nos é apresentado na sua versão jovem. Aquele que será no futuro o Comissário Gordon, é em Gotham o detective James Gordon, que vai começar por investigar a morte dos pais do jovem Bruce, o ponto de partida para toda a mitologia Batman.

Gotham é uma prequela e uma história de várias origens. De Gordon, de Alfred (o mordomo), do Pinguím, do Enigma, de Catwoman. Há todo um universo de referências que Bruno Heller, o criador, pode ir buscar – afinal, sempre são quase 80 anos de bandas desenhadas, desenhos animados, videojogos e filmes que tem à disposição. Entre tantas reinvenções do universo Batman, este Gotham parece mais próximo dos filmes de Tim Burton que dos de Christopher Nolan, mas a ideia de Heller, que também esteve por trás do drama histórico Roma e do policial O Mentalista, foi construir uma cidade sem tempo que se pudesse assumir como a personagem central.

“Toda a gente tem uma ideia de Gotham na cabeça e, por isso, o desafio era criar um mundo tridimensional que fosse, ao mesmo tempo, credível, mas um pouco para lá da realidade. Credível e, ao mesmo tempo, fantástico. É real e um pouco surreal e isso quer dizer que temos uma ampla tela para poder criar. Gotham é a personagem central. O nome não é por acaso”, dizia Heller em 2014, quando se estreou a primeira temporada da série – os 22 episódios da terceira que começam a ser agora exibidos em Portugal já passaram nos EUA e já está garantida para Setembro próximo mais uma fornada igual de episódios.

Há um detalhe importante em Gotham que lhe acrescenta margem de manobra. Por ser produzida pela Fox, está fora do universo cinematográfico e televisivo “oficial” da DC Comic, que pertence à Warner Bros, com resultados desastrosos no cinema, mas que até têm resultado na televisão – uma abordagem mais direccionada para o público juvenil que começou com a adolescência do Super-Homem (Smallville) e que se tem prolongado por séries como Arrow, The Flash, Supergirl ou Legends of Tomorrow. E por isso, Heller pode manobrar mais à vontade no universo, dar o seu toque às personagens, inventar outras sem que o cânone fique desvirtuado.

Numa televisão que está no limite da saturação com séries de super-heróis por todo o lado (a tal guerra de universos entre a Marvel e a DC, e com outras marcas a tentar entrar no mercado), Gotham não vai ter super-heróis. Vai ter um herói sem super-poderes, anti-heróis e vilões. Sobretudo não vai ter “aquele” herói da capa preta e a máscara de morcego, pelo menos na sua versão final. “A parte mais interessante das histórias é a origem das personagens”, diz Heller. “Quando entramos pelas capas e pelas fatiotas, fica bem menos interessante. Isto é sobre pessoas a tentar resolver problemas reais, por oposto a pessoas que estão a aprender a voar.”

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