Crianças do Peso da Régua aprendem a programar antes de saberem ler e escrever

Projecto Code Mode, da Santa Casa da Misericórdia de Peso da Régua, ficou em primeiro lugar na V edição do Prémio Maria José Nogueira Pinto.

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Um dos robôs educativos usado no projecto Code Mode é o Kibo, DR

Num país em que a Matemática e as áreas científicas em geral são um “bicho papão” no percurso escolar de muitos alunos, a Santa Casa da Misericórdia do Peso da Régua teve a ideia de pôr crianças do pré-escolar, que ainda não sabem ler nem escrever, a fazer programação de computadores. Como? Pondo-as em contacto com robôs educativos, dotados de software específico para a realização de actividades lúdicas que envolvem lógica, algoritmos e programação. A ideia, já levada a quatro jardins-de-infância do concelho, valeu aos seus autores o prémio Maria José Nogueira Pinto, promovido pela farmacêutica Merck Sharp & Dohme, para distinguir projectos “socialmente responsáveis” e que é atribuído esta quinta-feira, em Lisboa.

Distinguido num total de 94 candidaturas, o Code Mode da Santa Casa da Misericórdia de Peso da Régua visa desenvolver as competências digitais das crianças desde o pré-escolar, num concelho em que os baixos níveis de escolaridade se associam a uma elevada taxa de desemprego. “Através da programação, é possível desenvolver a capacidade de comunicar, de colaborar e de resolver problemas e até trabalhar a vertente artística”, sustentou ao PÚBLICO Daniela Meira, da Santa Casa do Peso da Régua, para explicar que os robôs, um dos quais adquirido nos Estados Unidos da América (o Kibo) e outro em Inglaterra, “permitem até que as crianças inventem histórias e as animem com a ajuda do robô que aprendem a programar através de símbolos, isto é, sem precisarem de saber ler nem escrever”. De caminho, as crianças das quatro escolas do pré-escolar do concelho por onde o Code Mode já passou vão aprendendo e desmistificando noções elementares de programação e robótica. A ideia é “fazer chegar o projecto a mais crianças, nomeadamente do 1.º ciclo do ensino básico”, segundo Daniela Meira.

A V edição do prémio Maria José Nogueira Pinto, cujo primeiro prémio é de 10 mil euros, atribuiu ainda menções honrosas (com direito a mil euros) a quatro outros projectos. Um deles é o Dreaming with survivors, da associação Acreditar de Coimbra, que criou uma rede de sobreviventes de cancro infantil com a missão de discutir as principais necessidades de mudança na área da pediatria oncológica. No rol de distinguidos está ainda o projecto Biokairós que promove a integração indivíduos em risco de exclusão social numa unidade de produção agrícola, o SMS+Cuidadores, desenvolvido no Marco de Canaveses e que apoia maiores de 65 anos no domicílio com um leque de cuidados que inclui estimulação neuro-cognitiva e formação aos cuidadores; e, por último, o Super Babysitters, uma plataforma de babysitting solidário que liga famílias com baixos rendimentos a voluntários disponíveis para tomar conta das crianças. 

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