Qatar: alvo da crise no Golfo, a Al-Jazira também tem exigências

“Exigimos que os jornalistas possam fazer o seu trabalho sem serem intimidados ou ameaçados", dizem aqueles que são alvo da lista dos quatro países que pressionam o Qatar e querem ver encerrada a estação.

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A sede da Al-Jazira, em Doha no Qatar NASEEM ZEITOON/Reuters

Enquanto não termina o prazo dado pelos quatro países que pressionam o Qatar a cumprir as suas já famosas 13 exigências, o alvo de uma dessas reclamações pronunciou-se: o canal pan-árabe Al-Jazira divulgou segunda-feira as suas próprias exigências a quem pede que seja encerrada no âmbito do conflito na região. Todas em torno do jornalismo e do direito à informação, foram lidas pelos repórteres e pivots da estação num vídeo em árabe e inglês.

“Àqueles que exigem que a Al-Jazira seja encerrada e que o direito das pessoas à verdade seja suprimido, nós também temos exigências”, avisam no início do vídeo, repartido em vários excertos para cada jornalista em estúdio ou correspondente em vários pontos do globo. E passam a elencá-las: “Exigimos que os jornalistas possam fazer o seu trabalho sem serem intimidados ou ameaçados. Exigimos que a diversidade de pensamento e opinião seja apreciada e não temida”.

A resposta à pressão exercida pela Arábia Saudita, Bahrein, Egipto e Emirados Árabes Unidos sobre o Qatar, que acusam de alinhar com o Irão e ao qual exigem o corte de ligações com a Irmandade Muçulmana e outros grupos islamistas como o xiita Hezbollah (do Líbano, apoiado pelo Irão), a Al-Qaeda e o Daesh, prossegue por parte dos jornalistas do canal financiado pela família real qatari. “Exigimos que o público tenha acesso a informação  imparcial. Exigimos que os jornalistas não sejam tratados como criminosos. Exigimos que aqueles que não têm voz sejam ouvidos. Exigimos liberdade de imprensa”, ouve-se dizer.

O vídeo termina com um hashtag, precisamente pedindo #demandpressfreedom. No texto que o acompanha online, o canal diz ainda que acredita que “qualquer pedido para encerrar ou obstruir o acesso” às suas emissões “é nada mais do que uma tentativa de silenciar a liberdade de expressão e de suprimir o direito das pessoas à informação e ao direito de se ser ouvido”.

Já a 26 de Junho, 20 dias passados sobre a aplicação de sanções e limites às viagens entre os quatro países e o Qatar, a Al-Jazira, canal fundado há 21 anos em Doha e com delegações mundo fora, tinha publicado uma carta aberta sobre o facto de ser alvo das exigências que estão no centro de uma das mais graves crises dos últimos anos na região. Recorda como no ano da sua fundação era “única no mundo árabe”, “uma voz verdadeiramente independente” com uma tarefa mais difícil nesse mundo árabe em que “a liberdade de expressão – e a liberdade para os jornalistas cumprirem as suas responsabilidades – “ é “um direito que tantas vezes é posto em causa para ganhos políticos”.

Hoje, vista em mais de 130 países em língua árabe e em língua inglesa, com redacções em mais de 30 países e empregando perto de 3000 jornalistas, tem sido objecto de represálias em alguns países, algumas das quais recentes – na mesma carta aberta, é referido o encerramento forçado de várias das suas delegações e o bloqueio ao seu sinal, entre as quais nos quatro países que agora pressionam o Qatar. “Não tomamos partido. Não somos mensageiros nem porta-vozes de ninguém e nunca fomos”, lê-se na missiva, que recorda que também noticia escândalos e casos difíceis no seu Qatar natal. 

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