Tancos: militares que vigiavam paióis tinham armas sem munições

Apenas dez soldados estavam encarregues da segurança das infra-estruturas no dia em que ocorreu o furto.

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Lacunas na segurança militar foram discutidas numa reunião do Exército, esta segunda-feira Miguel Manso

Fontes militares não identificadas garantem que os soldados que vigiavam os paióis na noite em que ocorreu o furto de material de guerra em Tancos detinham armas sem balas, escreve o Jornal de Notícias. A ausência de munições surge na sequência de uma medida aplicada no início dos anos 90 pela chefia do Exército da altura, e visava evitar acidentes entre militares de sentinela, como acontecera anteriormente, explicam as mesmas fontes.

No dia em que ocorreu o furto, a vigilância dos paióis de Tancos estava ao encargo de não mais do que dez militares com armas sem munições. Consigo, levavam apenas um carregador para as espingardas e para a pistola Walther P38, onde transportavam as respectivas balas. Segundo o JN, esses carregadores não poderiam ser imediatamente utilizados se necessários, uma vez que se encontravam lacrados. Esta limitação constitui um risco para a segurança dos paióis e dos próprios soldados, com um tempo de reacção obrigatoriamente mais prolongado, salienta o jornal.

“O objectivo é surpreender o alvo, o que nessas condições seria impossível. Só o barulho de tirar o carregador, pôr o carregador, puxar culatra atrás, das duas uma: ou o alvo escapava antes de o militar estar em condições de fazer fogo ou o alvo o abatia”, explicou fonte militar ao jornal.

No dia em que o material bélico foi roubado dos paióis, o número de soldados disponíveis para garantir a segurança nas instalações em Tancos não chegava aos dez, com um único sargento por secção. As torres de vigia encontravam-se, inclusive, desactivadas, uma vez que o Exército já não conseguia assegurar presença permanente nestas infra-estruturas.

A discussão sobre estas lacunas chegou à reunião que decorreu na segunda-feira entre os comandantes do Exército. De acordo com o JN, Faria Menezes, comandante das Forças Terrestres, assegurou, em reunião, uma mudança nestes termos. A partir de agora, todos os militares que asseguram a vigilância — um número que as autoridades competentes pretendem aumentar — deverão dispor de um carregador completo nas suas armas, prontas a disparar em emergências.

Várias têm sido as falhas de segurança identificadas pelas autoridades. Um sistema de videovigilância desactivado há dois anos, uma vedação danificada e 20 paióis sem as rondas habituais durante 20 horas.

É neste sentido que o antigo presidente e actual membro do conselho consultivo do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo (OSCOT), José Manuel Anes, considera estar-se perante “um golpe muito bem planeado e com colaboração interna, de militares, porque um assalto destes necessita de informação sobre as fragilidades do sistema.

Também o chefe do Estado-Maior do Exército, general Rovisco Duarte, tinha reconhecido, este domingo, que se poderia tratar de uma fuga de informação.

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