No Encontro Ciência 2017 houve lugar para uma palestra sobre ioga

O mestre de ioga Jorge Veiga e Castro discursou ao lado de Manuel Heitor (ministro da Ciência), Paulo Ferrão (presidente da Fundação para a Ciência e a Tecnologia) ou Alexandre Quintanilha (deputado e cientista), na abertura de um encontro em Lisboa de cientistas e da ciência que se faz em Portugal.

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Manuel Heitor, ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior Manuel de Almeida/Lusa

O auditório principal do Centro de Congressos de Lisboa estava praticamente cheio nesta segunda-feira na abertura do Encontro Nacional com a Ciência e a Tecnologia, Ciência 2017. Houve de tudo um pouco – desde investigadores de luto pela ciência, que procuram novos contratos de trabalho, até à homenagem a 17 investigadores devido ao seu mérito científico e à presença da Índia como país convidado, com um papel importante no espaço e nos oceanos. E, entre tudo isto, um mestre de ioga discursou na sessão de abertura do encontro onde haverá mais de 400 comunicações científicas.

O discurso inaugural coube Luís Magalhães, comissário do Ciência 2017 e antigo presidente da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), dizendo que o encontro tinha mais de 4000 participantes e cerca de 400 comunicações científicas. Entre os muitos temas em debate estão o espaço, a astronomia, a arquitectura, a antropologia e a biodiversidade.

Este encontro coincidiu também com os 20 anos da FCT. E Paulo Ferrão, o seu actual presidente, destacou que o 20º ano da FCT é um “ano extraordinário, honrando duas décadas de esforço e preparando uma nova década mais ambiciosa com novas condições para os cientistas”. Na plateia, um grupo de Investigadores FCT (um programa de contratos de trabalho para cinco anos) exigiu a continuação dos contratos. Tinham t-shirts pretas, em que se lia “luto pela ciência”.

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O ministro da ciência com os Investigadores FCT Manuel de Almeida/Lusa

Uma agência para o espaço

A Índia é o país convidado deste encontro, por isso veio agora a Lisboa o secretário científico da Organização para a Investigação Espacial Indiana (ISRO), P.G. Diwakar. Portugal quer lançar nos Açores o Centro Internacional de Investigação do Atlântico (ou AIR Center), dedicado precisamente ao espaço, oceanos, clima, atmosfera, gestão de dados e energia. Ora a Índia está a participar num grupo de trabalho que prepara um plano para a criação deste centro. Portugal espera que a Índia participe no desenvolvimento de novos serviços de lançamento espacial, incluindo um potencial Porto Espacial nos Açores, refere um dos documentos sobre o encontro.

O espaço é, assim, um dos temas em discussão no Ciência 2017, através da estratégia nacional “Portugal Espaço 2030”. Uma das medidas é a criação da Agência Espacial Portuguesa, já anunciada antes por Manuel Heitor, ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. E o que é esta agência? “Estamos a experimentar um novo modelo do que pode ser uma agência para o futuro”, começou por dizer ao PÚBLICO Manuel Heitor, que no seu discurso de abertura do encontro falou do progresso que a ciência fez nos últimos 20 anos em investimento ou número de doutorados.

Para o espaço, o ministro explica-nos que Portugal tem “três linhas de acção”. A primeira é o “estímulo” à exploração de dados e sinais espaciais, e já tem projectos-piloto que vão das pescas à defesa; a segunda é “dinamizar a produção de dados”, sobretudo com agências espaciais internacionais; e por fim, desenvolver a investigação e a cultura científica. Há dois países europeus, acrescentou, que estão a fazer este tipo de agência: Portugal e Luxemburgo.

Quanto às pessoas necessárias para uma agência espacial, Manuel Heitor respondeu: “É o que for necessário. Hoje o Programa Espaço da FCT tem dez pessoas. É normal que estes técnicos migrem para a agência com outros tantos.” O financiamento ainda está a ser “construído”. O ministro prevê que a agência seja criada até o final de 2018. E que até Setembro de 2017 o Governo elabore uma “lei do espaço”.

“Um meio criador supra-universal”

Do espaço descemos para terra, mais precisamente o ioga. Surpreendentemente, um dos oradores convidados deste grande encontro de ciência o país – ao lado de Manuel Heitor; Paulo Ferrão; ou Alexandre Quintanilha, cientista e deputado, presidente da Comissão de Educação e Ciência da Assembleia da República – foi Jorge Veiga e Castro, presidente da Confederação Portuguesa de Ioga.

E o que ouvimos a seguir foi uma explanação sobre as ligações entre o Universo e o ioga antigo, ou sânquia. “O sânquia afirma que existe um meio criador supra-universal que desencadeou a criação do nosso Universo”, disse. “Vejamos o que nos diz a ciência nesta matéria” – e evocou os nomes de Max Planck, Werner Heisenberg ou dos “cientistas de hoje”. Afinal, resumiu Jorge Veiga e Castro: “O ioga é complexo como o ser humano a que se destina e profundo do cosmos de onde provém.”

E não terminou sem enumerou alguns benefícios desta prática, como o “controlo hormonal” nos “adolescentes” e “o aumento exponencial” do seu “rendimento escolar”: “Todos ganharíamos se à semelhança da Índia o nosso Governo ficasse na história por introduzir o ioga tradicional nos currículos das nossas escolas.”

O Encontro Ciência 2017 voltou depois à ciência. Houve a entrega da Medalha de Mérito Científico a 17 personalidades, pelos seus contributos à ciência, atribuída pelo ministro da Ciência. Entre essas personalidades estão as geógrafas Suzanne Daveau e Raquel Soeiro de Brito, o historiador Fernando Rosas, o físico Gaspar Barreira ou o oceanógrafo (a título póstumo) Mário Ruivo.

E, também no fim, uma referência ao antigo ministro da ciência, José Mariano Gago (1948-2015). “O José Mariano dizia que a ciência é um campo de batalha. Não tem de ser nem deve ser consensual, deve provocar novas questões”, disse Manuel Heitor no seu discurso de encerramento da sessão, apelando para que se combatessem os "inimigos da cultura científica". "Tem de haver uma luta contínua e cerrada pela procura da verdade. Por isso, temos de combater aqueles que não querem a procura da verdade."

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