Cinco blocos de partos afectados pelo protesto dos enfermeiros

Amadora-Sintra, Gaia, Guimarães, Aveiro e Setúbal estão em risco de ver paralisado o bloco de partos devido ao protesto dos enfermeiros especialistas que reivindicam o reconhecimento formal da função que exercem e a respectiva valorização salarial.

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MARIA JOãO GALA/Arquivo

Cinco blocos de partos estão a ser afectados pela recusa dos enfermeiros especialistas em saúde materna e obstetrícia em exercerem funções para as quais não são remunerados. Além do Hospital de Amadora-Sintra, a recusa dos enfermeiros está a afectar os blocos dos hospitais de Aveiro, Gaia, Guimarães e Setúbal, numa situação que, se nada for feito, deverá progressivamente alastrar aos 28 blocos de partos existentes no país.  

No hospital de Gaia/Espinho, as grávidas de risco estão a ser acompanhadas pela enfermeira-chefe, que normalmente não tem doentes atribuídos, porque a enfermeira especializada que estava destacada para o serviço se recusou a prestar aquele tipo de cuidados. Segundo a agência Lusa, a enfermeira já foi avisada que “vai ser notificada de uma eventual sanção disciplinar”, sendo que o protesto foi assumido pelos 23 enfermeiros contratados como generalistas quando na realidade têm a especialidade em saúde materna.

“Sou enfermeira, tenho orgulho em ser enfermeira, adoro ser parteira. Estamos há 10 anos - e eu há cinco - a exercer a nossa especialidade porque queremos mas também porque fomos incentivados a isso. Já chega! Estamos aqui para defender a nossa classe, a nossa carreira, e a lutar pelo que acreditamos que é absolutamente justo e legítimo”, declarou a enfermeira Joana Gonçalves à Lusa.

Pelas 8h30 da manhã, três das nove camas destinadas a grávidas de risco no hospital Gaia/Espinho estavam ocupadas e aguardava-se a chegada de mais duas grávidas naquelas condições.

No Amadora-Sintra, onde 21 dos 23 enfermeiros especialistas aderiram à recusa em prestar cuidados diferenciados e onde se faz em média dois mil partos por ano, há vários enfermeiros concentrados à porta em protesto, com uma peça de roupa preta. “O serviço está altamente congestionado e há colegas que não deviam estar a fazer esta função e estão, podendo ser sujeitos a um processo disciplinar por parte da Ordem dos Enfermeiros”, denunciou ao PÚBLICO Bruno Reis, do movimento EESMO – Enfermeiros Especialistas em Saúde Materna e Obstetrícia, que está a organizar este protesto, com o apoio da Ordem dos Enfermeiros.

No hospital de Guimarães a recusa dos enfermeiros especialistas foi perfilhada por todos os enfermeiros escalados para a sala de partos, o que, segundo Bruno Reis, “vai implicar a transferência de grávidas” para outros hospitais.O bloco de partos de Aveiro foi também encerrado esta manhã. 

Este protesto deverá progressivamente alastrar aos restantes blocos de partos, num total de 28, porque o aviso de que os profissionais se limitariam a exercer funções generalistas também foi apresentado de “forma progressiva, para evitar que o caos se instalasse logo no primeiro dia” - conforme explicou Bruno Reis - e também para dar tempo para que o ministro da Saúde, Adalberto Campos, possa atender às reivindicações dos profissionais.

“Este protesto é arrojado mas é bom perceber que fizemos tudo para que esta situação não chegasse até aqui. Pedimos várias reuniões, fizemos chegar vários pedidos e inclusivamente o ministro tem na sua posse a proposta que consideramos justa e, até agora, nada disse”, adiantou Bruno Reis, para explicar que há cerca de dois mil enfermeiros especialistas em saúde materna contratados como especialistas. O que reivindicam é a introdução desta categoria de enfermeiro especialista na carreira e a respectiva valorização remuneratória. 

À porta do Amadora-Sinta, a bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco, lançou um apelo ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, para que intervenha numa situação que considerou ser uma "vergonha" para o ministro da Saúde, para o Governo e "até para o primeiro-ministro". "O país não pode continuar a ignorar que a Saúde tem problemas graves de segurança", sublinhou. 

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