Jay-Z sampla o Quarteto 1111 e isso é "fazer justiça", diz José Cid

Novo álbum do rapper, 4:44, foi lançado esta madrugada e nele consta o excerto autorizado de Todo o Mundo e Ninguém, da histórica banda portuguesa.

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Jay Z em palco em 2013 LUCAS JACKSON/Reuters

Jay-Z tem um novo álbum – notícia número um. No novo álbum de Jay Z, 4:44, José Cid e Tozé Brito, versão Quarteto 1111, são samplados – notícia número dois. O novo trabalho do magnata musical, produtor, autor e rapper, está desde a madrugada desta sexta-feira no Tidal, o seu próprio serviço de streaming musical, e foi lá que se encontrou um bocadinho de Todo o Mundo e Ninguém, do grupo fundado em 1967. Está no tema Marcy Me.

Todo o Mundo e Ninguém foi editada pelo Quarteto 1111 em 1970 e agora surge no álbum produzido por No I.D e assinado por Jay-Z. José Cid está “contente” por si, e “ainda mais contente” por Tozé Brito, seu colega de composição de Todo o Mundo e Ninguém, de cujo trabalho de criação se lembra até hoje. “Foi exactamente o primeiro tema que o Tozé Brito interpreta no Quarteto 1111”, explica por telefone ao PÚBLICO. “Lembro-me perfeitamente. Disse-lhe: ‘Tens aqui um poema do Gil Vicente e vais musicá-lo”, recorda o músico, que queria cortar com o trabalho que Brito fazia em inglês nos Pop Five Music Incorporated. Elogia Gil Vicente, “maior do que Shakespeare, mais criativo, mais genial, mais intuitivo”, e recupera a memória de Tozé Brito sentado ao piano, a fazer os primeiros acordes, consigo depois a continuar.

O primeiro contacto aconteceu há algumas semanas, explica o músico, através da produtora Marisa Valente, da editora Valentim de Carvalho, que por seu turno tinha sido contactada pela equipa do rapper norte-americano. Um “pedido do Jay-Z para gravar um tema que eu tinha escrito com o Tozé Brito”, diz, sem denotar o peso que o estrelato do músico americano tem no mercado. Questionado sobre se já ouviu o tema que esta madrugada foi tornado público, confessa: “Não admiro muito o rap. A única coisa que sinto boa é a parte poética”, diz, esperando que no rap “os poemas sejam objectores de consciência e que tenham alguma melodia interessante”.

O duo Cid e Brito deu “autorização através da Valentim de Carvalho” e não detalha os direitos de autor e royalties que este uso possa gerar. À Blitz, Tozé Brito explicou que foi negociada “uma percentagem... simpática. E recebemos à cabeça uma verba simbólica". "Os números não vou divulgar, são confidenciais", disse por seu turno à Lusa. "Uma parte dos direitos de autor da canção vai para o José Cid e para mim", disse. Por saber fica "como é que ele chegou à obra do Quarteto 1111, sendo que estamos a falar de uma canção de 1970, reeditada em CD nos anos 1990", questionou-se ainda o co-autor do tema agora usado pelo norte-americano.

“O tempo passa, a obra do Quarteto 1111 é ignorada”, indigna-se José Cid de sorriso irónico na voz, “e era a banda mais criativa e ousada da Europa continental”, opina. Por isso mesmo, agora este uso de um excerto da sua música num tema de um dos maiores artistas do mundo pode ser visto como “uma forma de se fazer justiça” ao catálogo do grupo formado inicialmente por Cid, Miguel Artur da Silveira, António Moniz Pereira e Jorge Moniz Pereira e no qual depois participariam Mike Sergeant, Mário Rui Terra,  Guilherme Inês, Vítor Mamede, Rui Reis, Armindo Neves e Luís Duarte.

Quando da publicação de Todo o Mundo e Ninguém, o Quarteto era formado por Tozé Brito, José Cid, Miguel Artur da Silveira e António Moniz Pereira. “É um dos temas absolutamente geniais do Quarteto 1111”, defende o músico, que lança dentro de meses Clube dos Corações Solitários do Capitão Cid, um novo álbum e um piscar de olho ao álbum dos Beatles que este ano cumpre o seu 50.º aniversário, Sargent Pepper’s.

4:44 é o 13.º álbum de originais de Jay-Z e está na íntegra e em exclusivo no Tidal, serviço de streaming por subscrição. Marcy Me é o nono de dez temas que compreendem o álbum. O tema termina com a estrofe em português "Como as minhas [mãos?] tocando aqui/Eu não canto do mundo, o meu tempo...". 
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