Debate: “Passaram-se 13 dias e ainda não sabemos porquê”

Com protagonistas diferentes do debate quinzenal, a discussão desta quinta feira à tarde prosseguiu entre testemunhos emocionados, perguntas e acusações.

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Constança Urbano de Sousa voltou esta tarde ao Parlamento Enric Vives-Rubio

"Ainda não sabemos porquê." Teresa Morais, deputada do PSD eleita pelo distrito de Leiria – o dos incêndios de Pedrógão Grande, Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos – disse a frase que melhor resume o espírito do debate desta quinta-feira à tarde no Parlamento.

“Passaram-se 13 dias sobre a maior tragédia nacional mas ainda não sabemos porquê”. Na bancada do Governo, Constança Urbano de Sousa, Jorge Gomes, Fernando Araújo, Pedro Nuno Santos e Pedro Marques ouviram o desabafo da vice-presidente do PSD. Ouviram-na perguntar se foi por falta de meios que a E236 não foi cortada e que socorro foi prestado às vítimas, incluindo a “bombeiros queimados”.  “O Estado falhou, falhou dramaticamente quando as pessoas precisavam dele”, disse.

Mais dura que o debate quinzenal do dia anterior, esta discussão sobre “a segurança, a protecção e a assistência das pessoas no decurso do trágico incêndio de Pedrogão Grande” trouxe uma novidade ao hemiciclo: depoimentos emocionados de deputados que andaram no terreno. E também acusações e exigências.

Jorge Lacão aproveitou a argumentação do PSD para defender a comissão proposta pelos próprios sociais-democratas, considerando-a o “modo mais idóneo” para fazer a investigação e até “contrária” à sede de respostas demonstrada por Teresa Morais. Mas a deputada não se ficou: “Fui eu que encaminhei uma patrulha da GNR que não sabia onde era o posto territorial”, contou. E perguntou: “O senhor precisa de uma comissão para saber porque é que um bombeiro ferido andou perdido durante 10 horas?"

O PSD fez questão de mostrar que esteve no terreno nos dias fatídicos. Mas o Governo também quis mostrar trabalho. "Visito todos os bombeiros hospitalizados", contou Jorge Gomes, secretário de Estado da Administração Interna. Já o da Saúde, Fernando Araújo, respondeu a Teresa Morais sobre o caso de um bombeiro sem assistência durante várias horas, informando que foi estabilizado pelo INEM no local e depois transportado para o hospital.

Sem surpresa, a esquerda mostrou-se mais unida a atacar o PSD do que a defender o Governo. “Vir exigir respostas quando sabe que não estão disponíveis neste momento é puro jogo político”, atirou José Manuel Pureza, do BE, ao PSD. Outra bloquista, Sandra Cunha, defendeu que o Estado não deve continuar a pagar a PPP do SIRESP.

Cauteloso, como tem sido desde o início deste processo, o PCP recusou entrar na disputa pela atribuição de culpas e preferiu desafiar o Parlamento a aprovar medidas para apoiar as vítimas dos incêndios. Deixou também duas perguntas: se o Governo está a fazer diligências para ter um outro sistema de comunicações para colmatar as falhas do SIRESP e se pondera ter um sistema de comunicações próprios do Estado.

Quando chegou a vez de Constança Urbano de Sousa falar também não houve surpresas. No mesmo tom sofrido que assumiu na audição parlamentar da noite anterior, a ministra disse: “Estamos a colher dados e cruzar dados para obter respostas. Seria irresponsável da minha parte avançar com conclusões quando ainda não temos respostas. Só há uma certeza que eu tenho. O que aconteceu em Pedrógão Grande foi um enorme incêndio”. Até aí, todos de acordo. “O que ninguém compreende”, concluiu João Almeida, do CDS, “é se em vez de procurarmos o erro, arranjarmos a desculpa de que fizemos tudo bem”.

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