Tesoureiro do Vaticano acusado de vários crimes sexuais

A polícia australiana revelou que George Pell foi alvo de “múltiplas” queixas. O cardeal diz que as acusações são “falsas” e garante que condena os abusos sexuais.

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O cardeal australiano é acusado, por várias pessoas, de crimes sexuais LUSA/PAUL MILLER

O cardeal australiano e actual secretário para a Economia do Vaticano, George Pell, é suspeito de vários crimes sexuais. A polícia australiana adianta que as queixas se referiam a incidentes passados e que as acusações foram feitas por mais do que uma pessoa. O cardeal, número três do Vaticano e um dos clérigos mais prestigiados da Austrália, negou as acusações e, durante uma conferência dada na manhã desta quinta-feira, considerou que as "falsas" acusações se tratavam de um “assassinato de carácter incessante”.

A polícia não especificou quais as acusações apresentadas nem as idades das alegadas vítimas ou quando aconteceram os crimes, adiantando unicamente que não se tratava de um caso recente. Durante a conferência de imprensa, que decorreu no Vaticano, George Pell afirmou que iria viajar para a Austrália para se defender das acusações e “limpar o nome” — segundo o cardeal australiano, o Papa Francisco tem sido mantido ao corrente da situação e autorizou uma licença. O cardeal será ouvido no Tribunal de Melbourne em menos de um mês, a 18 de Julho. 

O cardeal viajará de acordo com as recomendações dos seus advogados e médicos, dado o seu estado de saúde frágil, e garante que aguarda o dia em que se encontre em tribunal para se poder defender das acusações de abusos sexuais, uma prática que diz condenar veementemente. “A ideia de abuso sexual, para mim, é abominável”, afirmou durante a conferência de imprensa desta quinta-feira.

George Pell, de 76 anos, é cardeal desde 2003 e foi nomeado pelo Papa Francisco em 2014 para reformar e tornar mais transparentes as actividades financeiras do Vaticano. Na altura da morte do Papa João Paulo II, em 2005, George Pell tinha sido apontado pela imprensa australiana como um dos potenciais sucessores ao mais alto cargo da Igreja Católica. Quando terminar o processo judicial, diz, pretende regressar ao Vaticano. 

“Sempre fui consistente e claro na rejeição total destas acusações”, disse George Pell nesta quinta-feira, considerando que a sua ida a tribunal lhe oferece uma oportunidade para negar as acusações de que é alvo. O porta-voz do Vaticano, Greg Burke, confirmou que tinha sido concedida uma licença ao cardeal australiano “para que se possa defender”, frisando que, anteriormente, George Pell já “condenou publicamente os abusos sexuais a menores”, qualificando-os como práticas “imorais e intoleráveis”. 

Historial de abusos

O comissário da polícia do estado australiano de Victoria, Shane Patton, afirmou que os “procedimentos que seguem a acusação do cardeal Pell têm sido os mesmos que se aplicam nos restantes casos de crimes sexuais passados” investigados pela polícia. “O cardeal Pell tem sido tratado da mesma forma que qualquer outra pessoa nesta investigação”, garantiu, citado pela CNN.

George Pell, um dos principais conselheiros do Papa Francisco, é um dos primeiros membros do Vaticano com um cargo tão importante a ser acusado de abuso sexual. Já em Julho do ano passado foi noticiado que a polícia australiana estava a investigar denúncias de abusos sexuais contra o cardeal. Na altura, a televisão australiana ABC afirmava ter tido acesso a oito denúncias relativas a factos alegadamente ocorridos entre 1970 e 1990, quando Pell era arcebispo de Melbourne.

Este caso arrasta-se há vários anos e não é a primeira vez que o cardeal é acusado de um crime sexual: já em 2002 fora acusado por um homem que dizia que tinha sido abusado por George Pell, quando este era ainda estudante do seminário — o cardeal disse tratarem-se de “mentiras” e acabou por ser ilibado.

Num inquérito divulgado este ano, era revelado que pelo menos 4444 crianças terão sido vítimas de crimes sexuais na Austrália, em mais de mil instituições católicas espalhadas pelo país, entre 1980 e 2015. Durante esse período, pelo menos 7% dos padres católicos terão abusado de crianças, segundo os dados divulgados pela comissão que investiga a resposta das autoridades aos casos de abuso sexual de menores.

No início do ano, o Papa Francisco tinha declarado que deveria haver “tolerância zero” em relação aos abusos cometidos por elementos do clero, considerando-o um “pecado” que humilha a Igreja. O Papa reiterou que se deveria garantir que tais “atrocidades” não acontecessem, tendo já anteriormente criticado os bispos que ignoram ou encobrem este tipo de situações. Não obstante, Francisco foi criticado por falta de medidas concretas que impeçam e punam este tipo de crimes sexuais. 

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