Nobel da Paz Liu Xiaobo libertado com cancro de fígado terminal

O dissidente chinês, de 61 anos, está preso desde 2008, por "subverter as instituições do Estado."

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Liu Xiaobo e a mulher numa fotografia divulgada pela família em 2010 Reuters/HO

O escritor e activista chinês Liu Xiaobo, premiado com o Prémio Nobel da Paz em 2010, foi libertado depois de ter sido diagnosticado com um cancro do fígado em estado terminal, revelou nesta segunda-feira o advogado.

As autoridades chinesas concederam-lhe liberdade condicional por razões médicas. Há cerca de um mês que o escritor de 61 anos está a ser acompanhado num hospital na província de Laoning, no Norte da China, disse o advogado, Mo Shaoping, citado pela BBC, desde que lhe foi diagnosticado o cancro.

"Este cancro é muito difícil de tratar. Teria sido mais fácil se tivesse sido descoberto mais cedo", disse outro advogado, Shang Baojun, citado pelo Guardian. Liu foi diagnosticado em Maio. 

Liu está preso em Jinzhou desde 2008, acusado de tentar “subverter as instituições do Estado” por ter participado na elaboração da Carta 08, um documento publicado a 10 de Dezembro de 2008, o dia em que se celebrava  o 60.º aniversário da Declaração Universal dos Direitos do Homem. Este manifesto, assinado inicialmente por 350 intelectuais e activistas dos direitos humanos chineses, adoptava o nome e o estilo da Carta 77, um documento contra a influência soviética sobre a ex-Checoslaváquia, que teve entre os seus autores o dramaturgo Vaclav Havel, mais tarde Presidente da Rrepública Checa..

Em 2010, o escritor foi galardoado com o Prémio Nobel da Paz, tornando-se na terceira pessoa a receber o prémio durante o cumprimento de uma pena de prisão, depois do alemão Carl von Ossietzky, em 1935, e a birmanesa Aung San Suu Kyi, em 1991.

A atribuição do Nobel a Liu foi muito mal recebida pelas autoridades chinesas, que iniciaram um período de más relações diplomáticas com a Noruega, por causa da decisão do Comité Nobel - só normalizadas em 2016.

Pequim censurou todas as notícias sobre o assunto e desencadou uma onda de repressão contra outros activistas. A mulher do escritor, Liu Xia, está desde 2010 detida em prisão domiciliária, embora nunca tenha sido formalmente acusada. Ela pode nem ter sabido que o marido está doente, pois está impedida de o contactar.

“As autoridades devem imediatamente e de forma incondicional levantar todas as restrições à sua mulher e permitir que os dois se voltem a encontrar o mais depressa possível”, afirmou o investigador da Amnistia Internacional, Patrick Poon, citado pelo The Guardian.

Há mais de 1400 dissidentes presos na China, de acordo com uma base de dados mantida pelo Congresso dos Estados Unidos. Desde que chegou ao poder, em 2012, o Presidente Xi Jinping encetou uma nova vaga de repressão contra organizações de defesa dos direitos civis, que incluem organizações feministas, editores e advogados de defesa dos direitos humanos

 

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