Pedrógão: Provedor da Santa Casa diz que é fundamental fazer o cadastro da floresta

O responsável garante ser a favor da propriedade privada mas acredita que a gestão florestal deve ser feita de forma diferente. João Marques elogia ainda o apoio que tem recebido depois do incêndio que provocou a morte de 64 pessoas e fez mais de 200 feridos.

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O cadastro da floresta tem de ser feito rapidamente”, diz o provedor e ex-presidente da Câmara de Pedrógão Grande Daniel Rocha

O provedor da Santa Casa da Misericórdia de Pedrógão Grande disse este domingo que é fundamental que se faça o cadastro da floresta e que se avance com uma gestão profissional dos espaços através das zonas de intervenção florestal. "É fundamental que as zonas de intervenção florestal (ZIF) avancem rapidamente, após a feitura do cadastro, para a floresta ser gerida técnica e profissionalmente", afirmou à agência Lusa João Marques, a propósito do incêndio que começou sábado em Pedrógão Grande e que provocou a morte a 64 pessoas, além de mais de 200 feridos.

O responsável adiantou que falta uma coisa fundamental, a começar desde logo pelo cadastro da floresta, para depois se poder avançar no terreno. "Sou um defensor acérrimo da propriedade privada. Aqui, contrariamente ao que muita gente diz, não se pode por em causa aquilo que é de cada um. A gestão florestal tem que passar a ser diferente", sustentou.

O provedor e ex-presidente da Câmara sublinhou que não tem uma "visão romântica" de que a floresta é só floresta e adiantou que esta só é sustentável se for rentável e, caso isso não aconteça, é abandonada e o Estado também não lhe pega porque não tem dinheiro.

"Se esse trabalho não for feito agora em Pedrógão Grande, Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos, terei que chamar incompetentes a quem tem a responsabilidade nesta matéria", disse. João Marques sublinhou esperar que daqui a algum tempo não tenha que usar a palavra incompetente: "Não estou a chamar. Estou a dizer que se isso não vier a acontecer, teremos que dizer que foi uma oportunidade perdida, que houve incompetência (...) se este trabalho de fundo não for feito em cima desta calamidade".

A solidariedade não falhou

Adiantou ainda que a instituição que dirige, desde a primeira hora, começou a receber apoios, desde roupa, produtos alimentares e farmacêuticos que começaram a ser canalizados para as pessoas necessitadas. "Recebemos muita quantidade. Ontem [sábado] recebemos 20 toneladas de batatas só de uma empresa e, anteontem, dez paletes de bananas de outra, por exemplo. Isto além do que tem sido oferecido às juntas de freguesia, bombeiros e câmara", frisou. O provedor disse mesmo que a ajuda tem sido extraordinária, tanto assim que até tem criado alguns problemas ao nível da logística.

"Nós já pedimos aos nossos amigos que diferissem no tempo alguma dessa ajuda. Vamos precisar dela, não só agora, mas ao longo das próximas semanas", sustentou. Numa fase inicial, a instituição começou por acolher os desalojados.

João Marques disse ainda que estiveram nas instalações da Misericórdia mais de dez técnicos da Segurança Social, Cruz Vermelha, Polícia Marítima e da própria instituição, a dar apoio às pessoas.

"Este trabalho vai ser continuado a outro nível. Vamos continuar a receber a preciosa ajuda dos portugueses e a canalizá-la para as populações. Alojámos algumas pessoas, embora ultrapassando a nossa capacidade autorizada (...). Vamos fornecer refeições quentes e alimentos por cozinhar não perecíveis àqueles que tendo perdido tudo querem continuar aqui", disse.
Como ex-autarca, João Marques diz que vê toda esta situação com "uma tristeza muito grande", porque olha para trás e vê que o investimento feito anteriormente "foi deitado para o lixo, foi perdido".

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