Pedrógão: falhas graves no SIRESP duraram quatro dias

Resposta da Protecção Civil ao primeiro-ministro confirmam problemas graves na noite da tragédia, a partir das 19h45 e até ao dia 20. António Costa reagiu e pede "cabal esclarecimento do ocorrido".

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Daniel Rocha

As primeiras falhas nas comunicações do SIRESP foram registadas às 19h45 de sábado, na zona de Pedrógão Grande. E só às 21h29 a Protecção Civil solicitou à empresa que gere esta rede a mobilização de duas estações móveis para suprir as falhas detectadas – confirma a resposta da própria Autoridade Nacional de Protecção Civil ao primeiro-ministro, publicada esta sexta-feira. Pior: as duas carrinhas que poderiam ter substituído esta rede estavam avariadas. A da GNR estava inoperacional desde que sofreu um acidente (durante a visita ao Papa) e a da PSP estava também em reparação.

Os problemas, acrescenta o mesmo documento, acabaram por persistir no terreno até dia 20, na última terça-feira, quando o fogo no concelho de Góis obrigou à evacuação de dezenas de aldeias. Foram, portanto, quatro dias de problemas contínuos os que são descritos pela chamada "fita do tempo", memorizada pelo Sistema de Apoio à Decisão Operacional (SADO), a máquina que vai registando todas as ocorrências do incêndio que tirou a vida a 64 pessoas: "Neste contexto, poderá inferir-se que, desde as 19h45 do dia 17 de Junho até ao dia 20 de Junho, se verificaram falhas na rede".

Para remediar a situação "foram utilizadas as comunicações de redundância", anota Joaquim Leitão, presidente da ANPC, garantindo que isso permitiu "assegurar as comunicações associadas à operação”.

Depois de dado o primeiro alerta de falhas no sistema, as dificuldades foram “sentidas ao nível global das comunicações”, sobretudo na comunicação entre o Posto de Comando Operacional – instalado em Pedrógão – e o Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Leiria. As falhas de comunicação estenderam-se, consequentemente, aos operacionais que estavam no terreno no combate ao incêndio. Foi necessário gerar um novo plano, por parte do posto de comando, que se baseou apenas na Rede Operacional de Bombeiros (ROB).  

A Protecção Civil aponta que três torres de comunicação que sustentavam a infra-estrutura da rede SIRESP instaladas em Malhadas, Serra da Lousã e Pampilhosa da Serra terão sido danificadas, interrompendo as comunicações, uma situação reportada à ANPC entre as 21h12 e as 21h16. Entram “as comunicações de redundância” às 21h22, tendo sido pedidas as estações móveis pouco depois, às 21h29.

Seguiu-se a inoperacionalidade das torres de comunicação de Pedrógão Grande, às 0h51, e a de Figueiró dos Vinhos, às 4h12, sendo que já perto das 10h da manhã “não havia previsão de reposição de linhas, devido a corte por incêndio floresta”, refere a resposta assinada por Joaquim Leitão.

As estações de Pedrógrão Grande e a de Figueiró dos Vinhos só ficaram operacionais no dia 19 de Junho, segunda-feira. As falhas de cobertura continuaram, no entanto, em Pedrógão tendo sido solicitada a estação móvel pertencente à PSP – e que estava em reparação – para onde estava instalado o posto de comando, viatura que se deslocou mais tarde nesse dia para o teatro de operações em Góis. Também devido “a várias falhas de comunicação”.  

A Protecção Civil admite que o impacto da rede SIRESP “fez-se sentir, sobretudo, ao nível do comando e controlo daas operações”. A ANPC garante que as falhas terão sido “supridas com recurso às redes redundantes”, ainda que a interrupção da SIRESP não tenha permitido “o fluxo de informação entre operacionais e o posto de comando”. 

Perante a resposta da Protecção Civil relativamente às falhas do SIRESP, o primeiro-ministro António Costa pediu o “cabal esclarecimento do ocorrido” junto da ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, e admite que poderá ser "relevante para o inquérito em curso", pode ler-se numa nota enviada às redacções.

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