Em busca da oportunidade perdida

Sugiro que todos os candidatos às próximas eleições autárquicas se juntem de imediato e subscrevem-se uma petição conjunta, dirigida ao governo, no sentido de que a Agência Europeia do Medicamento seja localizada em Coimbra.

Em julho de 1999 a Comissão de Coordenação da Região Centro, a Arthur Anderson e a Invesvita apresentavam, sob a forma de livro, “Coimbra, Cidade da Saúde - Relatório Síntese”, documento elaborado com o apoio do PROCENTRO e que resultava do que se pode considerar um primeiro grande desígnio de Coimbra, após a instauração da democracia.

A diferenciação positiva de Coimbra no campo da saúde era sem dúvida, nessa altura, uma realidade e havia uma tentativa de encontrar um antídoto para um discurso de auto-flagelação que varria a cidade.

“Coimbra, Cidade da Saúde” afigurava-se como um desígnio incontestável e uma solução mobilizadora de uma cidade que tinha capacidades de investigação, de ensino e formação na área, para além de um histórico que a singularizavam e que era aceite, genericamente, sem reservas.

Para mais a “EXPOVITA”, feira-exposição relacionada com a área da saúde, tinha acontecido com sucesso e por isso tudo parecia conjugar-se para que fosse possível a emergência de um inequívoco contrato coletivo, capaz de se fazer respeitar politicamente, quer a nível partidário local quer a nível do poder central.

Pese embora a bondade da intenção e uma boa fundamentação técnica o “Relatório Síntese” foi a peça final do projeto. Em silêncio finou-se e o discurso de auto-flagelação aí continua.

Passados estes anos continua a ser evidente que a área da saúde continua a ser uma das mais-valia da cidade ainda que a sua importância no contexto nacional tenha, por diversas razões, vindo a diminuir.

Aliás, é sintomático o processo de reconfiguração dos hospitais centrais e universitário que deram lugar á “junção” dos Hospitais da Universidade de Coimbra com o Centro Hospitalar de Coimbra de que resultou o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, que para os doentes significou, sobretudo, confusão e degradação de alguns serviços.

Graças ao “Brexit” temos agora o desígnio nacional de conseguir a instalação no nosso país da Agência Europeia do Medicamento que sairá do Reino Unido. E, como seria de esperar neste reino lusitano, temos instalada um guerra política norte-sul na tentativa de conquistar a localização da referida Agência.

Do bom combate pela vinda da Agência para o nosso país passámos à guerra de guerrilha, exponenciada pelo facto de estarmos próximo das eleições autárquicas, que tenho dúvidas seja compreendida perlas instância europeias que nos ouvem e leem decerto com estupefação e incredulidade, e sem saber que medicamento utilizar para a cura desta idiossincrasia portuguesa.

Há também quem defenda a Agência Europeia do Medicamento em Coimbra. Uns com convicção, outros no contexto das eleições autárquicas e outros ainda por mera tática.

Se o projeto de “Coimbra, Cidade da Saúde”, que alguns dos atuais defensores da Agência em Coimbra ajudaram a “assassinar”, tivesse avançado hoje teríamos um quadro completamente diferente e um trunfo decisivo na decisão a tomar pelo governo, mas “Inês é morta” e, por isso, pouco haverá a fazer. 

Desconhecendo os meandros e os timings do processo atrevo-me, contudo, enquanto cidadão de Coimbra, a sugerir que todos os candidatos às próximas eleições autárquicas se juntem de imediato e subscrevem-se uma petição conjunta, dirigida ao governo, no sentido de que a Agência Europeia do Medicamento seja localizada em Coimbra.

Desta forma, e independentemente do resultado deste processo, davam cabal cumprimento aos slogans de campanha com que se apresentam e em que dizem querer mais e melhor para Coimbra. Era uma atitude que os honraria e nos faria acreditar que não se movem por meros projetos de poder pessoal mas que todos desejam, verdadeiramente, o melhor para Coimbra.

Seria a busca de uma oportunidade perdida de que nos orgulharíamos!

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