Osvaldo tem duas casas vazias e oferece abrigo a quem “ficou sem nada”

Para além das 62 mortes, estima-se que cerca de duas centenas de pessoas estejam desalojadas. O presidente da União das Misericórdias diz que há que ter cautela mas que, no geral, é um “grande acto de solidariedade”.

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Osvaldo Rodrigues disponibilizou as suas casas por ter noção que "há pessoas que ficaram sem nada" Paulo Pimenta

Perante “a catástrofe” que se tem vivido por causa do incêndio em Pedrógão Grande (que causou 62 mortes e 62 feridos), o electricista Osvaldo Rodrigues decidiu disponibilizar duas habitações suas no local que se encontram desabitadas – uma é sua, outra é da família – “para quem possa precisar, por tempo indeterminado”.

Osvaldo Rodrigues mora em Albufeira mas nasceu na Sertã e o seu pai, que já morreu, era de Alvorge – a localidade onde se encontram as duas casas, pertencente ao concelho de Ansião, distrito de Leiria. “Não causa transtorno ajudar das mais diversas formas”, disse ao PÚBLICO, considerando que, “infelizmente, há pessoas que ficaram sem nada”.

Até agora, Osvaldo – que não sabe se tem conhecidos ou amigos entre as vítimas – ainda não recebeu nenhum pedido de ajuda, mas considera que isso possa ser um sinal de que o Governo está a dar uma resposta adequada, já que os desalojados estão a ser reencaminhados pelas autoridades para sítios onde possam pernoitar. Ainda assim, as suas casas “estarão sempre de portas abertas para quem necessitar”.

Numa actualização do ponto de situação feito na noite de domingo, a ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, referiu que as hipóteses de alojamento estavam longe de estar esgotadas, não precisando o número de desalojados.

Com base nos relatos que tem ouvido, o presidente da União das Misericórdias Portuguesas, Manuel Lemos, acredita que haverá cerca de duas centenas de desalojados na sequência do incêndio só na zona do distrito de Leiria e de Coimbra, mas afirma que o número pode aumentar: “Há pessoas que não vão querer sair, vão querer ver as suas casas e ver se há mortos”, disse Manuel Lemos. Ainda assim, reitera que não há certezas quanto ao número de desalojados.

Quanto a quem disponibiliza a sua casa a quem precisa, Manuel Lemos afirma que é preciso ter cautela mas que, de um modo geral, “é um grande acto de solidariedade”. “Nestas alturas somos um país comovido e nota-se que os portugueses são muito solidários”, considerou. “Há muito a fazer pelos que ficaram e é isso que vamos fazer”, conclui o presidente da União das Misericórdias Portuguesas.

Osvaldo Rodrigues fez uma publicação no Facebook e deu ainda a informação relativa ao alojamento aos Bombeiros Voluntários de Ansião e também a uma rádio local, prontificando-se, ele próprio, a rumar a norte caso necessário. “Não há [uma boa] forma de encarar isto, há muitas vítimas mortais. O fogo acaba por ser o menos importante nisto tudo: o mais importante é que há pessoas que perderam a vida e outras que ficaram sem nada”.

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