Rússia: ameaça à segurança decreta estado de emergência

Russos redobraram os cuidados com a segurança e tornaram mais imediata a identificação dos adeptos nos estádios.

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Mário Cruz/LUSA

A Rússia já deixou bem clara a posição de força que assumirá em matéria de segurança na organização da Taça das Confederações, que vê como oportunidade rara de promover um ensaio-geral para o Mundial de 2018. Apesar da escala e do impacto incomparáveis com que se confrontarão no próximo ano, há inúmeros aspectos a levar em conta durante a competição idealizada pela FIFA para testar a logística a tempo de corrigir os problemas de organização do Campeonato do Mundo.

Como ponto de partida, num Estado habituado a ter uma forte presença policial e militar, resultado de décadas de conflitos em regiões como o Cáucaso, a Rússia poderá recuperar grande parte das medidas adoptadas nos Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi, em 2014. Os desafios não mudaram significativamente desde então, com o terrorismo a concitar todas as atenções numa altura em que os conflitos armados na Ucrânia e na Síria potenciam o risco de ataques como o verificado, em Abril, no metro de São Petersburgo, de que resultaram 14 vítimas mortais.

A psicose que se instala em todo o mundo, com actos de terrorismo cada vez mais discricionários, “solitários” e difíceis de antecipar, levanta uma questão sobre a capacidade de lidar com este novo estilo de terrorismo. Porém, parece não afectar as autoridades russas, que garantem um torneio seguro e sem motivos de preocupação. Para tanto, contam com a eficácia do pacote de medidas impostas por Vladimir Putin. O presidente russo já provou não vacilar perante as críticas dos observadores, mostrando-se indiferente às acusações de estar a aproveitar a ocasião para decretar um estado de emergência. As restrições à liberdade de cidadãos (russos e estrangeiros) são incontornáveis, o que contribui para o aumento da contestação. Com efeito, para além dos tradicionais hooliganismo e terrorismo, ganham expressão o protesto e as manifestações contra a corrupção, como as que levaram à prisão de quase dois milhares de manifestantes em todo o país no Dia da Rússia. No fundo, um cocktail altamente instável.

A Rússia parece, porém, ter uma resposta para todos os cenários. Os confrontos entre hooligans russos e ingleses no último Campeonato da Europa, em França, não deixam margem para dúvidas quanto ao comportamento dos ultra. Neste particular, atendendo às selecções presentes na Taça das Confederações, a violência entre claques fica bastante restringida, quer pela esperada reduzida afluência de turistas, quer pelo histórico dos países envolvidos, na sua maioria nações de brandos costumes. A tudo isto a Rússia responde com inflexibilidade. Para além do teste realizado num jogo entre o Spartak de Moscovo e o Terek Grozny, a malha aperta com a identificação dos desordeiros, existindo uma lista negra de quase duas centenas de adeptos banidos dos estádios.

Por outro lado, para assistir aos jogos, os adeptos terão que facultar informação que permita a elaboração de um bilhete de identidade de fã, após o escrutínio das autoridades russas. Uma vez validados, terão à disposição, gratuitamente, uma rede de transportes que levanta problemas óbvios. Se nos estádios é possível instaurar medidas similares à dos aeroportos, já nos comboios e metros agrava-se o controlo.

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