Exposição no escuro conduzida por pessoas cegas vence prémio Mariano Gago

Conferência Anual ECSITE, no Porto.

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Paulo Pimenta

Uma exposição no escuro conduzida por pessoas cegas e um projecto orientado para a reciclagem de instrumentos científicos foram as iniciativas premiadas nesta quinta-feira com o Mariano Gago ECSITE Award, na abertura da 28.ª Conferência Anual ECSITE, no Porto.

A conferência, que decorre até sábado na Alfândega do Porto, organizada pela Ciência Viva e pelo Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto (UP), é um encontro europeu de comunicadores de ciência e profissionais de museus e de centros de ciência.

O Mariano Gago ECSITE Award, prémio internacional que reconhece e distingue os projectos ligados à ciência e museus capazes de causar impacto junto da sociedade, foi criado pelo ECSITE em 2015, como homenagem ao professor e criador da Ciência Viva - Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica, Mariano Gago, no ano em que este faleceu.

Dialogue in the Dark (Diálogo no escuro), a exposição em que os visitantes são guiados por pessoas cegas através de ambientes diários, concebida pela empresa Dialogue Social Enterprise, de Hamburgo (Alemanha), foi o projeto distinguido na categoria Sustainable Success (Sucesso Sustentável).

Nesta exposição as pessoas cegas podem "ver" enquanto as pessoas com visão são "cegas", sendo uma oportunidade para "superar preconceitos, estereótipos, ignorância, evasão e insegurança", explicou a organização do evento.

Na categoria Smart and Simple (Inteligente e Simples), o prémio foi atribuído ao centro TRACES - Espace des Sciences Pierre-Gilles De Gennes, de Paris (França), pela exposição Frugal Science, orientada para redução do custo dos instrumentos científicos através da reciclagem e da reutilização de materiais.

O TRACES combinou projectos de ciência provenientes de diferentes partes do mundo, em constante evolução, com uma série de workshops, conferências e "laboratórios vivos", que abordavam a ciência experimental, reunindo pesquisadores, profissionais criativos e o público.

O centro NOESIS - Thessaloniki Science Center & Technology Museum, da Grécia, obteve uma menção honrosa por um projeto de acolhimento de crianças e famílias dos campos de refugiados de Salónica, oferecendo-lhes um programa científico, educacional, cultural e social.

A presidente da Ciência Viva, Rosalia Vargas, que presidiu o ECSITE entre 2013 e 2015 e é agora membro do comité executivo, disse à Lusa que estas distinções servem para encorajar as pessoas e as organizações que demonstram inovação e criatividade, de forma a reconhecer o seu trabalho.

O ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES), Manuel Heitor, que participou na abertura da conferência, recordou Mariano Gago e afirmou que a ciência "não é consensual" e "se não houver contradição, é porque esta (a ciência) é irrelevante".

"A comunicação da ciência depende da forma como formulamos os problemas e criamos debates com possibilidades controversas", acrescentou.

Com o tema Life Everywhere (Vida em toda a parte), a edição deste ano conta com 1.100 participantes de cerca de 50 países, bem como 400 especialistas, divididos por debates, 'workshops' e apresentações, nos quais será discutida a contribuição dos museus e centros de ciência na promoção dos novos desafios para a sustentabilidade global, a comunicação de ciência e os ecossistemas de aprendizagem.

O ECSITE é uma rede internacional de museus, centros e comunicadores de ciência, sediada em Bruxelas, fundada há quase 30 anos e que conta com mais de 350 membros a nível mundial, sendo esta a terceira vez que a conferência se realiza em Portugal.

 

 

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