Congressista americano em estado crítico após ataque contra membros do Partido Republicano

Atirador anti-Trump baleou republicanos que treinavam para um jogo de basebol contra democratas. Identificado como um homem branco de 66 anos, foi voluntário na campanha de Bernie Sanders. Senador condenou o ataque que fez cinco feridos.

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Um homem ferido depois do tiroteio em Alexandria, Virgínia, recebe os primeiros socorros MICHAEL REYNOLDS/EPA
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Steve Scalise é líder da bancada do Partido Republicano na Câmara dos Representantes MICHAEL REYNOLDS/EPA (arquivo)
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Aparato policial no local do tiroteio SHAWN THEW/EPA
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Aparato policial no local do tiroteio SHAWN THEW/EPA

O jogo anual de basebol contra o Partido Democrata estava marcado para quinta-feira, a meio da tarde, e a equipa de congressistas do Partido Republicano tinha começado a fazer o seu último treino, na manhã desta quarta-feira, num pequeno campo de basebol a dez quilómetros do Capitólio. Meia hora depois, congressistas, funcionários e outros participantes no treino atiravam-se ao chão e tentavam rastejar até aos bancos de suplentes para escaparem às dezenas de balas disparadas por um atirador, que ia fazendo pontaria a cada um deles e à única porta de saída.

O congressista Steve Scalise, que foi atingido numa anca, ficou em estado crítico.

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Cinco pessoas ficaram feridas e o atirador morreu SHAWN THEW/EPA

"Ele começou a andar à volta da vedação e andava à procura dos que tinham encontrado um lugar para se esconderem. Se ninguém do nosso lado tivesse disparado, ele teria chegado ao pé de cada um de nós e disparado à queima-roupa", disse Mike Bishop, um membro da Câmara dos Representantes do Partido Republicano que escapou ileso.

Bishop disse que um dos polícias do Capitólio destacados para fazer a segurança de Scalise sacou de um pequeno revólver e começou a disparar na direcção do atirador. Outro congressista republicano, Mo Brooks, contou que, no meio do pânico, olhou para cima e viu "uma pistola a ser disparada um metro acima da cabeça" – era outro dos polícias a disparar contra o atirador.

O caso ainda está a ser investigado pelo FBI, mas o congressista Jeff Duncan, da Carolina do Sul, disse que talvez tenha falado com o suspeito momentos antes do tiroteio. Duncan disse que saiu mais cedo do treino com o colega Ron DeSantis e que quando estavam a dirigir-se para o seu carro foram abordados por um homem, que lhes perguntou se a equipa que estava a treinar era do Partido Democrata ou do Partido Republicano.

"Nós dissemos que era do Partido Republicano. Ele só disse 'OK, obrigado'. Não achámos nada estranho", disse Jeff Duncan, lembrando que o parque localizado no bairro de Del Ray, em Alexandria, é frequentado por muitas pessoas àquela hora, e que o jogo entre as equipas dos dois partidos suscita sempre muita atenção todos os anos.

Presença de Scalise "evitou massacre"

No momento do tiroteio estavam no campo de treino vários membros do Partido Republicano, tanto da Câmara dos Representantes como do Senado. Tal como a equipa do Partido Democrata, a equipa republicana é constituída por congressistas das duas câmaras, e as duas defrontam-se num jogo amigável todos os anos desde 1909 – o objectivo é "ajustar contas e consolidar amizades fora do Congresso", como se pode ler no site oficial do evento. O dinheiro dos bilhetes é depois doado a instituições de solidariedade social.

Este ano, um dos elementos da equipa de basebol do Partido Republicano é Steve Scalise, o majority whip da Câmara dos Representantes (uma função semelhante à de líder de uma bancada parlamentar) – o cargo tem majority no nome porque diz respeito ao whip do partido que está em maioria, neste caso o republicano. A participação de Scalise – e o facto de ele não ter faltado ao último treino – pode ter evitado um massacre, sublinhou o congressista Ron De Santis.

"O facto de Steve Scalise estar no campo significou que tínhamos segurança", disse o congressista. "Se ele não estivesse lá, também não haveria agentes e acho que seria um massacre."

De acordo com várias testemunhas, o atirador disparou dezenas de tiros – entre 50 e 100 – e "tinha a clara intenção de matar pessoas, de fazer várias vítimas mortais", disse o congressista Mike Bishop. "Tinha muitas munições e cartuchos, estava sempre a descarregar e a carregar", disse o mesmo congressista do Partido Republicano.

No final do tiroteio, que durou "entre cinco e dez minutos", ficaram feridas cinco pessoas. Scalise teve de se arrastar sozinho até uma área mais abrigada, deixando atrás de si um rasto de sangue, segundo o congressista Mo Brooks. O majority whip da Câmara dos Representantes recebeu os primeiros socorros no local, prestados por outro congressista, Bred Wenstrup, que é médico. Numa conferência de imprensa, o Presidente Donald Trump anunciou que o atirador acabou por morrer dos ferimentos que sofreu durante o tiroteio.

"Dois dos nossos funcionários e Steve Scalise foram atingidos", contou o congressista Mike Bishop. "Vi-o a ser atingido e não consegui fazer nada para o ajudar. Tentámos tirá-lo dali o mais rapidamente possível, mas o tipo não parava de disparar. Um dos nossos funcionários foi atingido no peito. É uma situação trágica e, francamente, para mim tudo mudou para sempre." Mike Bishop votou sempre contra propostas de leis de controlo de compra e posse de armas e tem a nota máxima atribuída pela National Rifle Association.

Outro dos congressistas que esteve debaixo de fogo é o conhecido senador Rand Paul, que foi candidato à nomeação pelo Partido Republicano nas eleições primárias do ano passado. "Ninguém teria sobrevivido se não fosse a polícia do Capitólio", disse Paul, referindo-se aos agentes que estavam a servir como seguranças pessoais de Steve Scalise. "Ele estava a tentar matar toda a gente. E teria conseguido. Teria sido um massacre."

Activista pró-Sanders e anti-Trump

Vários congressistas disseram que o atirador era um homem branco e que estava armado com uma espingarda semi-automática. O jornal Bellevue-News Democrat, do estado do Illinois, avançou que o homem é James T. Hodgkinson, de Belleville, no Illinois. Tinha 66 anos, estava inscrito em vários grupos anti-Partido Republicano no Facebook e foi detido em 2006 por agredir a sua namorada.

Na sua página na mesma rede social (entretanto retirada), Hodgkinson tinha várias mensagens contra o Presidente Donald Trump e o Partido Republicano. A sua imagem de capa era uma fotografia de Bernie Sanders – o candidato derrotado por Hillary Clinton nas eleições primárias do Partido Democrata.

Numa reacção ao tiroteio, Bernie Sanders disse estar "consternado com este acto desprezível". "Acabei de ser informado de que o alegado atirador no treino de basebol do Partido Republicano é alguém que, aparentemente, foi voluntário na minha campanha presidencial. Deixem-me ser o mais claro possível: nenhum tipo de violência é aceitável na nossa sociedade, e eu condeno este acto nos termos mais fortes possíveis. A verdadeira mudança só pode acontecer através de acções pacíficas, e tudo o resto é contrário aos nossos valores mais profundos", disse Sanders.

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