OCDE: Criação de emprego é “o desafio mais significativo” de Portugal

Qualidade do emprego também pode ser melhorada, alerta a organização, que recomenda maior protecção aos desempregados.

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Em 2014, os homens ganhavam mais 29,4% do que as mulheres em Portugal, diferença que no conjunto dos países da OCDE subia para 39% Margarida Basto

A taxa de emprego em Portugal cresceu mais rapidamente do que a média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) e o desemprego está a reduzir-se, mas o país continua a ter desafios pela frente. “O mais significativo” é a criação de postos de trabalho, embora também haja margem para melhorar na qualidade do emprego gerado. Estes são algumas das observações deixadas pela OCDE no relatório sobre as perspectivas do emprego para 2017 (Employment Outlook), divulgado nesta terça-feira em Paris.

Pela primeira vez, a OCDE analisa o desempenho dos mercados de trabalho dos 35 países que a constituem recorrendo a indicadores que vão além das tradicionais taxa de emprego e de desemprego. No relatório deste ano, a organização presta particular atenção à qualidade do emprego e à capacidade de inclusão dos mercados de trabalho, indicadores “que fornecem uma visão geral dos pontos fortes e fracos dos mercados de trabalho nacionais”.

Durante a última década, destaca-se no documento, “a maioria dos países da OCDE conseguiu melhorar a integração das mulheres e dos grupos desfavorecidos no mercado de trabalho e melhorar a qualidade do ambiente laboral”, mas “a taxa de desemprego e os ganhos mantiveram-se mais ou menos estáveis” e a segurança e o risco de baixos rendimentos pioraram”, conclui a organização liderada por Angel Gurría.

No caso de Portugal, que atravessou uma recessão prolongada, a criação de emprego continua a ser a prioridade. O relatório destaca que a taxa de emprego (63,9% em 2015) até é superior à de Espanha, Itália ou Grécia, mas lembra que o país continua no grupo dos que estão mais longe da média da OCDE (66,4%) e a taxa de desemprego continua acima dos níveis de 2007.

"A qualidade do emprego também pode ser melhorada", destaca a OCDE, dando como exemplo os ganhos, a sua distribuição e a insegurança no emprego. Este último indicador mede a perda de rendimento associada à situação de desemprego que, em Portugal, é de 11,7%, acima dos 6,5% da OCDE. Neste campo, a organização desafia o Governo a "melhorar a cobertura do sistema de protecção no desemprego, garantindo uma maior protecção e ligando a prestação à procura efectiva de emprego".

Nem tudo são más notícias e em algumas áreas Portugal tem um desempenho positivo face aos outros países da OCDE. É o caso das desigualdades salariais entre géneros. Em 2014, os homens ganhavam mais 29,4% do que as mulheres em Portugal, diferença que no conjunto dos países da OCDE subia para 39%.

Também na capacidade de integrar grupos desfavorecidos (mulheres com filhos, jovens que não estão a trabalhar, nem a estudar, em formação, pessoas mais velhas ou com deficiência e imigrantes) Portugal apresenta melhores resultados do que a média. Contudo, alerta a organização, esta análise não inclui a segmentação do mercado de trabalho que “continua a ser um desafio significativo em Portugal e suscita preocupações quanto à inclusão, uma vez que certos grupos "têm maior probabilidade de serem empregados com contratos temporários e outras formas de contratos atípicos".

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