Lições para as esquerdas

Quer a extrema-esquerda queira quer não, o discurso anti-europeu e anti-globalização é incompatível com os princípios de integração de minorias que tanto (e bem) defende e propala.

O duplo acto eleitoral em França e em Inglaterra permite uma variedade de leituras que chocam entre si. Com o aparente afastamento do fantasma populista, os resultado recentes em França dão esperança a centristas – mas a esquerda mais extremista olha embevecida para Corbyn e para a sua quase-vitória como um farol na escuridão.

A verdade é que para os movimentos esquerdistas do continente europeu contam muito mais os resultados de Melenchon do que os dos trabalhistas britânicos. A receita estratégica de Jeremy Corbyn não poderá nunca ser aplicada pelas esquerdas do continente. E isto pela simples razão de que os trabalhistas já não tinham de se confrontar com um problema chamado União Europeia, que é “apenas“ o tópico mais importante da discussão nas democracias entre Lisboa e Bucareste.

Corbyn preferiu, de forma mais ou menos acobardada, deixar que os conservadores se enredassem no problema europeu – e também é verdade que, caso os jovens que agora lhe deram tão bons resultados tivessem ido votar no Brexit, hoje o Reino Unido ainda seria parte da União Europeia.

Seria bom perceber que as populações querem uma União Europeia melhor, mas querem uma União Europeia. Presumir que a UE é irreformável e que deve ser morta, de preferência de forma brutal e revolucionária, vai ao arrepio do que as populações europeias pretendem e garante desastres eleitorais como o de Melenchon. Continuar a insistir em fazer da União a quimera capitalista arrasta a esquerda para as malhas do populismo

Esta contradição insanável dos populistas da extrema-esquerda, que não conseguem resolver com eficácia a impossibilidade de quererem parecer modernos quando o que defendem é um retorno ao nacionalismo fraturado, acaba por os aproximar dos populistas, nacionalistas e autoritários de má fama. Quer a extrema-esquerda queira quer não, esse discurso anti-europeu e anti-globalização é incompatível com os princípios de integração de minorias que  tanto (e bem) defende e propala.

Existirão outras soluções para a esquerda que não passem pelo excesso estatista de Corbyn nem pelo passadismo anti-globalização de Melenchon. Será é preciso mais competência e mais pragmatismo – algo em que Emmaneul Macron revelou ser exemplar.

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