Palavras, expressões e algumas irritações: electricidade

Bastam 20 dias para que se interrompa o fornecimento de electricidade por falta de pagamento. Um ano não chega para interromper o fornecimento de lucros milionários à EDP.

Foto
Eduardo Salavisa

“Forma de energia que manifesta a sua acção através de fenómenos mecânicos, térmicos, caloríficos, luminosos, químicos, etc.”, começa por explicar o dicionário. E logo acrescenta: “Essa forma de energia aplicada ao consumo doméstico ou industrial.” A que se seguem as frases “pagar a factura da electricidade” e “cortar a electricidade”.

Falemos de pagamentos. “Os portugueses pagam uma das electricidades mais caras da Europa”, já se escreveu várias vezes. Uma possível explicação para tal foi divulgada recentemente: “A EDP [Electricidade de Portugal] ganhou no mínimo 46,6 milhões de euros a mais do que aquilo que era suposto com a prestação de serviços que são pagos através da factura da luz.” Pois.

Falemos de cortes. Um aviso prévio de 20 dias basta para que se proceda à interrupção do fornecimento de electricidade por falta de pagamento da factura, informa o Portal do Consumidor de Energia. Para interromper o fornecimento de lucros milionários à EDP, 365 dias não chegam. “O Estado está há um ano para cortar 46 milhões aos ganhos da EDP.” Pois.

Depois de uma denúncia anónima, o Ministério Público abriu um processo-crime com base em antigos acordos de compensações financeiras celebrados entre o Estado e a EDP. Poder-se-á estar perante “factos susceptíveis de integrarem os crimes de corrupção activa, corrupção passiva e participação económica em negócio”. Resultado: vários arguidos, incluindo António Mexia.

O presidente da EDP deu uma conferência de imprensa sobre o assunto e escudou-se na legalidade dos procedimentos (o habitual). Mas, como lembrou Francisco Teixeira da Mota, “se lermos os mais diversos jornais nacionais e, mesmo as televisões, constatamos muitas vozes e de diferentes sectores de opinião que não ficaram satisfeitas com as explicações dadas na conferência de imprensa, apontando a profunda irracionalidade que representam as elevadas rendas pagas à EDP pelo Estado e manifestando a expectativa que da investigação surja algo de mais substancial”.

Esperam, portanto, “que se faça luz”.

Palavras, expressões e algumas irritações é uma rubrica do caderno P2, bem como A Semana Ilustrada, na edição de 11 de Junho com assinatura de Eduardo Salavisa

Sugerir correcção
Ler 2 comentários