Legislativas deixaram liderança de May e futuro do "Brexit" em dúvida

Primeira-ministra britânica acusada de ter cometido "o maior erro de cálculo da história política". Líder trabalhista pede afastamento de May e diz que a "a política mudou"

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Os eleitores britânicos recusaram a maioria forte que Theresa May lhes tinha pedido para negociar a saída do Reino Unido da União Europeia e, findas as legislativas, é o futuro da líder conservadora e do “Brexit” que ficam em causa. A primeira-ministra cessante já assegurou que irá formar governo – para o que precisará do apoio dos unionistas da Irlanda do Norte –, mas o líder trabalhista, Jeremy Corbyn, já veio pedir o seu afastamento.

Com a contagem de votos prestes a terminar, prevê-se que o Partido Conservador eleja 318 deputados, a oito da maioria absoluta, ao passo que o Labour, que começou a campanha com uma desvantagem de 20 pontos percentuais, deverá ocupar 262 lugares no Parlamento, mais 30 do que detinha actualmente. O Partido Nacional Escocês (SNP) teve também uma noite má, perdendo 21 dos 56 lugares que detinha no Parlamento de Westminster, incluindo o que era ocupado pelo anterior líder, Alex Salmond. Já os liberais-democratas reforçaram a posição, elegendo 12 deputados, mas sofreram uma baixa de peso com a derrota do ex-vice-primeiro-ministro Nick Clegg.

Theresa May “convocou eleições porque queria um mandato”. “Bem, o mandato que teve foi perder deputados, perder votos, perder o apoio e a confiança. Eu diria que é o suficiente para ela se ir embora”, afirmou Corbyn, sugerindo que os conservadores deveriam dar lugar ao Labour na formação do Governo. “A política mudou e não vai regressar à caixa onde estava antes. O que aconteceu é que as pessoas disseram que já tiveram política de austeridade que chegue”, sublinhou.

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May, na sua primeira declaração pública desde que foram conhecidas as projecções, assegurou que não pretende entregar o poder. “Este país precisa de um período de estabilidade. Cabe-nos assegurar essa estabilidade e é exactamente isso que vamos fazer”, afirmou. Já de regresso a Downing Street, a líder conservadora fez saber que “não ter qualquer intenção de se demitir”. Mas no interior do seu partido e na imprensa são já vários os que a acusam de ser responsável pelo “maior erro de cálculo da história política” do país ao convocar uma eleição que não precisava – a legislatura só terminava em 2020 – e de ter perdido a maioria no Parlamento com uma campanha em que mostrou fragilidades quando prometia uma “liderança forte e estável”.

Não é claro, no entanto, se alguém no partido avançará para um desafio, sobretudo com as negociações do “Brexit” prestes a começar e se, como tudo indica, May conseguir o apoio do Partido Democrático Unionista (DUP, dez deputados) para fazer aprovar o seu Governo. Entre os nomes falados como potenciais candidatos ao lugar está Boris Johnson, que ocupava o cargo de ministro de Negócios Estrangeiros no anterior Governo, e a sua colega do Interior, Amber Rudd, que conseguiu ser eleita após uma recontagem de votos no seu círculo.

A dúvida paira agora também sobre as negociações do “Brexit”, cujo início está previsto para dia 19. Os analistas afirmam que, sem maioria no Parlamento, será mais difícil a Theresa May avançar com os seus planos para um “hard Brexit”, já que tanto os trabalhistas como boa parte do seu partido quer que o Reino Unido consiga um acordo que garanta o máximo de acesso ao mercado único europeu (mecanismo que May pretendia abandonar, a fim de poder controlar a imigração para o país). No entanto, um “soft Brexit” irá provocar a rebelião da ala eurocéptica do seu partido. Londres não deu, para já, qualquer sinal de que poderá pedir um adiamento do início das negociações.

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