Tiê: “Continuo a fazer discos autobiográficos, mas com outra perspectiva”

Com um novo disco na calha, a cantora e compositora brasileira revê as suas canções no Espaço Espelho D’Água, em Lisboa, esta quinta-feira, às 22h.

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O disco anunciado para Agosto terá novos arranjos, mais electrónicos DR

Milhões de pessoas já conhecem a sua voz e muitas das suas canções. Tiê, uma das cantoras brasileiras mais notadas da nova geração, está em Lisboa para apresentar esta quinta-feira no Espaço Espelho D’Água (22h) uma súmula do seu trabalho até à data.

De seu nome completo Tiê Gasparinetti Biral (tem ascendência italiana por parte do pai), Tiê nasceu em São Paulo, em 27 de Março de 1980, e o seu nome, de origem japonesa, é também no Brasil nome de pássaro (e ela fala disso numa das suas canções, Passarinho): “Na época, a minha mãe frequentava uma igreja japonesa, de um tipo de budismo, e daí veio o meu nome. Sofri muito, no começo da vida, como qualquer criança, porque me chamavam de Tietê, de Tieta, de Titanic. Até quando comecei a cantar com Toquinho, que foi quando eu comecei profissionalmente, não era fácil p’ra ele me apresentar. Ele dizia: Tiê! E as pessoas achavam que ele estava espirrando.” Ainda experimentou Tiê Biral, mas Biral parecia um remédio; ou Tiê Alves, porque a sua avó, actriz (“foi ela que deu o primeiro beijo na televisão brasileira”), se chamava Vida Alves. Mas como já havia um músico de chorinho com esse nome, acabou por ficar Tiê, apenas. “E deu certo.”

Mãe e avó incentivaram-na “a fazer arte”. Fez dança, teatro, música, foi modelo, abriu até um restaurante. Quanto à música, foi aos 15 anos que começou a cantar (versões, em bares), mas só aos 24 o fez profissionalmente, depois de ter conhecido Toquinho, com quem partilhou o palco durante uns dois anos, e Dudu Tsuda, do grupo Pato Fu. Nessa altura ainda não compunha. “Nem tinha vontade de fazer um disco, porque eu gostava, e gosto muito, de bossa nova, de sambas antigos, mas já havia tantos discos e tão lindos, eu ia fazer o quê? Um disco a mais?” Foi um acaso, não propriamente feliz, que mudou tudo. No final da tournée com Toquinho ela ficou doente. “Tive febre 40 dias, quase morri.” Operaram-na, descobriram a tempo um tumor infeccioso, mas no recobro ela teve de parar. “Voltar para casa da minha mãe, comer direito. E aí comecei a compor.”

Uma canção, 64 milhões

Desse processo de renascimento saiu Sweet Jardim (2009), o seu primeiro disco. “Aí entendi que podia compor as minhas histórias de um jeito simples. Como eu não sabia tocar, aprendi para fazer o disco. Sou autodidacta, não sou uma grande instrumentista, mas a minha música fazia mais sentido quando tocava de modo simples.” Depois deste, vieram A Coruja e o Coração (2011) e Esmeraldas (2014). “Ainda continuo a fazer discos autobiográficos, mas já com uma outra perspectiva. O primeiro disco era denso, o segundo é mais maternal [Tiê teve, entretanto, duas filhas], mais leve, mais solto. Já o terceiro é mais tenso, porque estou mais para fora, com mais energia. E estou a acabar um quarto.” Este disco segue-se a um enorme sucesso com a canção A Noite, do terceiro (o videoclip oficial já tem mais de 64 milhões de visualizações no Youtube), e no Brasil já lhe “cobram” por isso. Nada que a incomode. A essência do seu trabalho não muda, diz ela, mas o disco anunciado terá novos arranjos, mais electrónicos. Deve sair em Agosto e já tem um tema online, Mexeu comigo.

Esta quinta-feira, no Espelho D’Água, ela misturará em palco canções dos quatro discos. “Eu e o André Whoong, que é o arranjador. Ele é baixista, um baixista magnífico, mas no show toca guitarra e teclados. Eu toco violão e um pouco de piano também.” Ouçam-nos.

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