Catorze oficiais do Exército venezuelano presos quando protestos anti-Governo começaram

Líderes da oposição dizem que há um desassossego crescente no interior do Exército devido ao uso da força contra os manifestantes. Regime diz que está a ser preparada uma "insurreição armada".

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Há sinais de divisão dentro das Forças Armadas, diz a Reuters Reuters

As forças de segurança da Venezuela prenderam pelo menos 14 oficiais do Exército por suspeitas de “rebelião” e de “traição” na primeira semana de protestos contra o Presidente Nicolás Maduro, no início de Abril, de acordo com documentos militares que a Reuters obteve.

Estes militares, e entre eles há coronéis e capitães, estão detidos na prisão de Ramo Verde, situada nas montanhas nos arredores de Caracas, segundo as listas de detidos que circulam dentro do Exército. Estes documentos afirmam que os casos destes militares estavam a ser “processados” e não era claro se já tinham sido formalmente acusados.

As listas surgiram depois de acusações feitas pelos líderes da oposição na Venezuela de que estaria a decorrer uma purga no interior do Exército para suprimir dissidentes, devido à forma como estes lidaram com as manifestações em massa contra o Governo socialista bolivariano, desde o início de Abril.

Os documentos a que a Reuters teve acesso só iam até 8 de Abril, mas os líderes da oposição e activistas dos direitos humanos afirmam que, desde esta data, foram detidos muitos mais militares.

A unidade militar da Guarda Nacional tem estado na linha da frente do policiamento aos protestos, utilizando gás lacrimogéneo, canhões de água e balas de borracha contra jovens que usam máscaras e atiram pedras, cocktails molotov e excrementos contra as linhas de segurança.

Já morreram, pelo menos, 65 pessoas e as vítimas incluem apoiantes do governo e da oposição, espectadores das manifestações e membros das forças de segurança. Outras centenas de pessoas ficaram feridas.

Os líderes da oposição dizem que há um desassossego crescente no interior do Exército devido ao uso da força contra os manifestantes, que exigem eleições gerais, ajuda humanitária internacional e liberdade para os activistas detidos.

Em público, os oficiais de alta patente apoiaram as acusações de Maduro de que está a ser montada uma “insurreição armada” por conspiradores violentos que pretendem realizar um golpe de Estado apoiado pelos Estados Unidos.

Mas, em privado, alguns membros da Guarda Nacional queixaram-se de exaustão e de desilusão.

Pedidos de asilo

Alguns militares vieram a público para expressar o seu descontentamento. No mês passado, três tenentes fugiram para a Colômbia e pediram asilo, o que levou o Governo venezuelano a exigir a sua extradição para que enfrentem acusações de planeamento de golpe.

Na semana passada, os meios de comunicação da oposição publicaram um vídeo onde um homem identificado como sargento da  Marinha da Venezuela expressava a sua dissidência e exortava os colegas a desobedecerem a superiores “abusivos” e “corruptos”.

“Rejeito o Senhor Nicolás Maduro Moros por ser Presidente ilegítimo e recuso-me a reconhecer o seu regime e o seu governo ditatorial”, disse Giomar Flores num vídeo de sete minutos. Usava um uniforme branco da Marinha e uma boina preta, ao lado de uma bandeira da Venezuela.

A Reuters não conseguiu confirmar a veracidade do depoimento ou o seu paradeiro.

Nem o Ministério da Informação nem as Forças Armadas responderam a pedidos de informações.

Hugo Chávez (que morreu em 2013) transformou o Exército num bastião do “chavismo” depois de um golpe de curta duração contra si, em 2002.

Apesar de Maduro, de 54 anos, não vir do Exército – como era Chávez –, manteve estes laços fortes, colocando antigos ou actuais militares num terço dos cargos ministeriais e oferecendo-lhes o controlo de sectores cruciais, como a distribuição de alimentos.

Os líderes da oposição têm pedido abertamente às Forças Armadas para desobedecerem a Maduro e apoiarem as suas exigências, mas as hierarquias militares juraram-lhe lealdade repetidamente.

 

 

 

 

 

 

 

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