Cerco diplomático ao Qatar gera corrida aos supermercados. Governo apela à calma

Esta segunda-feira houve um acréscimo na procura de bens essenciais nos supermercados, num país que depende bastante da importação de alimentos.

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Reuters/NASEEM ZEITOON

A crise diplomática no Golfo Pérsico está a ter efeitos no quotidiano dos habitantes do Qatar. De acordo com órgãos da imprensa local, como é o caso do Doha News, houve casos de pânico entre alguns residentes e durante esta segunda-feira circularam imagens de prateleiras de supermercado vazias. Nas redes sociais, há relatos de uma maior afluência aos supermercados depois de Bahrein, Egipto, Arábia Saudita, Iémen e Emirados Árabes Unidos terem anunciado na segunda-feira a suspensão das relações diplomáticas com o Qatar e o corte das ligações aéreas e marítimas, acusando o país de apoiar o terrorismo.

Com cerca de 2,5 milhões de habitantes e um território maioritariamente desértico e de reduzidas dimensões, o Qatar depende fortemente da importação para responder à procura de bens alimentares. Dos produtos importados, cerca de 80% chegam de países do Golfo Pérsico. Uma das preocupações do momento, destaca a Reuters, é a importação do açúcar, cuja exportação foi suspensa pelos Emirados Árabes Unidos e pela Arábia Saudita, de acordo com fontes ligadas ao comércio externo.

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Ao longo desta segunda-feira, circularam também relatos de dezenas de veículos de transporte de mercadorias bloqueados junto à fronteira terrestre do Qatar com a Arábia Saudita.

Eva Tobaji, a viver na capital do Qatar, relatou à Reuters a sua experiência: “As pessoas correram para o supermercado para comprar comida, especialmente a importada. Era um caos, nunca tinha visto nada assim.”

Já o The Guardian fala de longas filas e do desaparecimento de produtos como leite, arroz e frango das prateleiras de uma das principais cadeias de supermercados do país. “Vim por causa da crise”, conta uma das testemunhas ouvidas pelo jornal britânico, com o carrinho de compras cheio de fraldas para o filho.

No entanto, há quem desvalorize a crise. Também circulam esta terça-feira imagens de prateleiras abastecidas com produtos e existe até uma conta satírica no Twitter, @DohaUnderSiege, que ironiza sobre o suposto estado de “pânico” sentido no país.

O Governo do Qatar quer evitar o alarme e ainda na segunda-feira emitiu um comunicado garantindo que as rotas marítimas e aéreas se mantêm abertas para a importação de produtos. Contudo, e ainda que o transporte de bens não seja totalmente suspenso, os analistas apontam que o país deverá assistir a um aumento do preço dos bens, com impacto nas empresas e na população local.

Irão oferece ajuda, Trump carrega na ferida

Do outro lado do Golfo, o Irão, o país supostamente alvo dos elogios do emir do Qatar que será um dos motivos da ira dos sauditas e dos seus aliados, já se disponibilizou para exportar alimentos para o Qatar no espaço de 12 horas, segundo afirma a agência noticiosa iraniana Fars.

Entretanto, nesta terça-feira, o emir do Kuwait viaja para a Arábia Saudita para se encontrar com o rei Salman.

No entanto, o clima é adverso ao diálogo. Apesar do chefe da diplomacia norte-americana, Rex Tillerson, ter defendido na segunda-feira que as partes em conflito devem sentar-se à mesa, o Presidente dos Estados Unidos escreveu esta terça-feira no Twitter que o corte de relações com o Qatar "talvez seja o princípio do fim do terrorismo". Donald Trump afirmou que, durante a recente visita ao Médio Oriente, os líderes da região apontaram para Doha como um exemplo de financiamento de movimentos extremistas. Estas são alegações desmentidas pelo pequeno emirado do Golfo.

Para além do corte de relações diplomáticas, o Qatar poderá enfrentar um outro desafio a nível internacional. Durante a manhã desta terça-feira, o novo ministro da Justiça francês, Francois Bayrou, defendeu o fim dos benefícios fiscais aplicados ao Qatar naquele país. A medida, criada em 2008 durante a presidência de Nicolas Sarkozy, garante a uma série de países, incluído Qatar, isenções fiscais nos lucros da venda de património imobiliário em França. Desde então, a família real do Qatar construiu várias propriedades. Bayrou defende agora o fim deste privilégio.

“Será que esta situação pode continuar? Não acredito. A justiça fiscal francesa é muito importante”, disse o governante francês ao canal BFM. A intenção de acabar com este incentivo era uma das promessas eleitorais do actual Presidente francês.

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