Theresa May critica "tolerância" face ao "extremismo islamista"

Ataque em Londres deixa pelo menos sete pessoas mortas e faz mais de 40 feridos. Autoridades detiveram 12 pessoas nos arredores da capital. Donald Trump aproveita para promover a sua agenda.

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Operação policial em Barking, na zona leste de Londres Reuters/HANNAH MCKAY

Um “novo normal”. Esta foi uma das expressões mais ouvidas no dia que se seguiu a mais um ataque terrorista em solo britânico – o terceiro em pouco mais de dois meses que as autoridades consideram ter sido inspirado pela ideologia extremista do Daesh. A primeira-ministra, Theresa May, critica "tolerância" que existe em relação ao extremismo e quer maior controlo da Internet.

Na noite de sábado, por volta das 22 horas, quando centenas de pessoas enchiam os pubs e as esplanadas de uma das zonas por excelência da diversão nocturna londrina, uma carrinha branca atropelou várias pessoas que se deslocavam na London Bridge. Três homens, empunhando longas facas, saíram da carrinha e entraram em bares onde conseguiram esfaquear algumas pessoas antes de serem abatidos pela polícia. Os três homens vestiam coletes com explosivos falsos.

Morreram sete pessoas de várias nacionalidades diferentes, e 48 foram hospitalizadas, algumas das quais em estado crítico. No domingo, a polícia revelou que um dos agentes baleou acidentalmente uma pessoa, quando tentava abater os autores do ataque.

O atentado ocorre numa altura particularmente sensível no Reino Unido. Os britânicos têm eleições gerais antecipadas na quinta-feira e estão ainda a recuperar do choque do ataque bombista em Manchester, a 22 de Maio. Porém, a mensagem dominante dos londrinos parece ser de resiliência e sobretudo de não se deixar abalar pelo medo.

“Uma das coisas que podemos fazer é mostrar que não vamos ser coagidos indo votar na quinta-feira e assegurando que percebemos a importância da nossa democracia, das nossas liberdades civis e dos nossos direitos humanos”, afirmou o mayor de Londres, Sadiq Khan.

A primeira-ministra, Theresa May, adoptou uma postura dura e defendeu mudanças nas políticas de prevenção e de contenção da “ideologia maligna do extremismo islamista”. “Embora tenhamos feito progressos significativos nos últimos anos, ainda existe demasiada tolerância em relação ao extremismo no nosso país”, afirmou May. A líder conservadora sublinhou ainda a necessidade de um controlo mais apertado da Internet com o objectivo de conter a propagação de mensagens extremistas.

Na reunião do G-7 na semana passada, May já tinha manifestado a necessidade de pressionar as gigantes tecnológicas a tomar medidas para “combater a uso indevido da Internet por terroristas”. A Google esclareceu que já se encontra a trabalhar com o Governo britânico para “assegurar que os terroristas não têm uma voz online”.

Trump ao ataque

Os líderes internacionais lamentaram as mortes e condenaram mais um ataque em solo europeu. Mas o Presidente dos EUA, Donald Trump, foi mais longe e publicou uma série de tweets em que aproveitou para promover a sua agenda, criticou o autarca londrino e ainda fez uma defesa do porte de armas. “Precisamos de ser inteligentes, vigilantes e duros. Precisamos que os tribunais nos devolvam os nossos direitos. Precisamos da travel ban como um nível extra de segurança”, escreveu Trump, referindo-se à ordem executiva que assinou para suspender a entrada de cidadãos de vários países muçulmanos que tem sido bloqueado em vários tribunais. Esta semana, a Casa Branca enviou a iniciativa para o Supremo Tribunal, na esperança de acabar com os bloqueios na justiça.

À hora que Trump reagia havia ainda muito poucos pormenores confirmados pelas autoridades acerca da identidade dos autores do ataque. Porém a grande maioria dos atentados na Europa têm sido levados a cabo por cidadãos nascidos no próprio país – ou seja, a medida de Trump em nada poderia evitar que acontecessem.

Horas mais tarde, Trump criticou Khan por ter dito aos londrinos que “não há razões para alarme”. O autarca de Londres fez esse apelo quando explicava que nos próximos dias a capital britânica será mais policiada. Não é a primeira vez que Khan é alvo de críticas por parte do clã Trump. Na sequência do atentado em Westminster, Donald Trump Jr. criticou o presidente da câmara de Londres por declarações meses antes em que disse que as grandes cidades têm de estar preparadas para ameaças terroristas.

Raide em Barking

A prioridade das autoridades britânicas é identificar potenciais cúmplices dos autores do ataque e averiguar qual o nível de planeamento que o atentado teve. No domingo de manhã, a polícia realizou uma grande operação em Barking, nos arredores de Londres, onde pelo menos um dos autores do ataque morava. Foram detidas 12 pessoas, suspeitas de terem ligações ao atentado. Vários moradores foram citados pela imprensa britânica dizendo que conheciam um dos homens, descrito como uma pessoa “amigável”. Um vizinho, Ken Chigbo, disse à Sky News que, na véspera, um dos homens lhe tinha feito perguntas sobre uma carrinha da qual é proprietário.

Barking é um antigo distrito industrial muito pobre e que tem sido um dos locais de maior fixação de imigrantes na zona metropolitana de Londres. Nas eleições regionais de 2006, a formação nacionalista e anti-imigração Partido Nacional Britânico foi o segundo mais votado, tendo conseguido eleger 12 conselheiros locais.

Ao contrário do autor do ataque na Manchester Arena, que se fez explodir utilizando um dispositivo caseiro – cujo fabricante está ainda por apurar – os responsáveis pelo atropelamento e esfaqueamentos na London Bridge utilizaram meios pouco sofisticados e que as pessoas comuns encontram disponíveis facilmente.

“Planos que usam bombas, como as da Manchester Arena, são mais raros porque os seus autores têm de possuir competências técnicas para levarem a cabo um ataque assim tão chocante”, escreve o correspondente da BBC para assuntos de segurança interna, Dominic Casciani. “Mas atacar pessoas com carros e facas é muito mais fácil e é algo que tem sido encorajado pelo chamado Estado Islâmico [outra das designações do Daesh] e outros jihadistas”, acrescenta.

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