O sargento charro

Sgt. Pepper's foi o primeiro disco dos Beatles que tive de comprar com o "meu" próprio dinheiro. Nunca mais perdoei o senhor da loja.

Os meus pais fartaram-se dos Beatles no Verão de 1966, quando saiu Revolver. Compraram o álbum, claro, mas não partilhavam o meu entusiasmo por Tomorrow never knows que citava Timothy Leary e que tresandava a droga. Pensando melhor, era eu que esperava para saber quais as canções que eles odiavam para depois me convencer que eram obras-primas: antes sofrer do que concordar com eles.

Quando o Sgt. Pepper's foi lançado tive medo que não o comprassem. Conspirei com o senhor da loja para ele não pôr a tocar o disco no lado A porque a primeira faixa, a titular, era uma charangada horrenda de Paul McCartney cuja audição garantiria uma decisão negativa.

Para seduzir os meus pais a comprar o disco escolhi outra charangada horrenda de Paul McCartney: When I'm sixty-four, a segunda do lado B. Como os meus pais eram muito velhos, deduzi, seria irresistível uma cançoneta em que um velho pergunta a uma velha se ela vai continuar a amá-lo quando ele atingir a idade decrépita de 64 anos.

O estúpido do empregado, contudo, enganou-se: era esperteza a mais para ele. Em vez de pôr a segunda pôs a primeira do lado B, Within you without you, uma charangada pseudo-indiana de George Harrison com uma letra pedradona que, aos ouvidos de pais preocupados com os posters psicadélicos nos quartos dos filhos pequenos, prometia, para todos os efeitos, droga, loucura e morte.

Assim foi. Sgt. Pepper's foi o primeiro disco dos Beatles que tive de comprar com o "meu" próprio dinheiro. Nunca mais o perdoei.

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