Vieira meteu o Benfica na rota dos meganegócios

Mesmo não ficando com todo o dinheiro para si, o clube "encarnado" tem feito vendas superiores a 100 milhões nas últimas três épocas e prepara-se para ter mais uma assim.

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PEDRO NUNES/REUTERS

Por todos os motivos e mais algum, a presidência de João Vale e Azevedo é vista como um dos períodos mais negros da história do Benfica. Não vamos por aí. Mas foi Vale e Azevedo que negociou em 2000 aquela que, durante muitos anos, foi a maior transferência da história do Benfica, a venda de Nuno Gomes à Fiorentina. Na altura, Vale e Azevedo falou de quatro milhões de contos (20 milhões de euros na moeda actual), mas terá sido um pouco menos, mais próximo dos 3,5 milhões de contos (cerca de de 17 milhões). Se essa verba chegou a entrar na totalidade nos cofres “encarnados”, não se sabe (a Fiorentina foi à falência em 2002 e Nuno Gomes regressou à Luz), mas essa fasquia dos 17 milhões de euros só foi ultrapassada sete anos anos depois.

Nesse Verão de 2007, o Benfica teve duas transferências acima desse valor, a de Simão Sabrosa para o Atlético de Madrid por 20 milhões de euros e de Manuel Fernandes para o Valência por 18 milhões. Mas, para se ter uma ideia do que tem sido o volume de negócios dos “encarnados” na última década, nenhuma destas transferências entraria no “top 10” das maiores vendas. Para entrar entre os dez mais, o mínimo é de 25 milhões, valor de venda de cinco jogadores: Nico Gaitán (Atlético Madrid), Nemanja Matic (Chelsea), Enzo Pérez (Atlético Madrid), David Luiz (Chelsea) e Lazar Markovic (Liverpool).

Os 17 milhões de Nuno Gomes em 2000 aparecem apenas em 18.º na lista das maiores transferências da história do Benfica. Todas as que estão acima foram feitas desde que Luís Filipe Vieira assumiu a presidência do clube, sendo que estes valores, em alguns casos, não entram na totalidade nos cofres “encarnados”, devido à partilha dos direitos económicos com outros clubes e entidades. Foi o que aconteceu, por exemplo, com Ederson, transferido para o Manchester City por 40 milhões, dos quais o Benfica tem direito a metade – o restante será dividido entre o Rio Ave e Jorge Mendes.

O negócio que envolveu o jovem guarda-redes brasileiro vai directamente para o topo das maiores transferências de sempre do clube “encarnado”, empatando com os 40 milhões que o Zenit pagou em Setembro de 2012 pelo médio belga Axel Witsel. Logo a seguir vem Renato Sanches, por quem o Bayern Munique pagou 35 milhões, um valor que pode crescer até aos 80 milhões de acordo com objectivos definidos no acordo, que vão desde a utilização em determinado número de jogos até vencer a Bola de Ouro.

No Verão de 2004, Vieira fez o seu primeiro grande negócio, com a transferência de Tiago para o Chelsea por 12 milhões, numa altura em que os londrinos investiram muito no futebol português (estava lá José Mourinho, e também levaram Paulo Ferreira e Ricardo Carvalho do FC Porto). Mas Vieira só voltou a negócios de grandeza semelhante com Simão e Manuel Fernandes em 2007. Depois, o recorde de transferências só voltaria a ser quebrado em 2010, com a venda de Angel di Maria ao Real Madrid por uma verba que chegou aos 33 milhões (variáveis incluídas), o quarto maior negócio “encarnado” de sempre – o argentino tem, aliás, movimentado muito dinheiro no futebol europeu, tendo passado do Real para o Manchester United por 75 milhões, e do United para o PSG por 63 milhões.

Desde Di Maria, o Benfica tem feito, pelo menos, um negócio de 25 milhões ou mais em cada época, sendo que a regra tem sido fazer mais do que um. E isso ajuda a explicar por que razão o Benfica tem tido um volume de vendas superior a 100 milhões nas últimas três épocas – 104,65 milhões em 14-15, 104,2 milhões em 15-16 e 119,85 em 16-17. E tudo indica que este recordes podem ser quebrados já neste defeso. Ederson já foi, mas há muitos jogadores com muito mercado que podem render verbas semelhantes ou superiores, como Nelson Semedo ou Victor Lindelof.

Se o recorde de Nuno Gomes para a Fiorentina teve alguma longevidade, ainda mais teve a transferência do central brasileiro Aldair, que, no longínquo ano de 1990, foi do Benfica para a Roma por nove milhões. Na altura foi um recorde, hoje parece irrisório e está apenas no 25.º posto na lista dos maiores negócios. É que nos últimos 13 anos, o Benfica teve os negócios milionários, mas também aqueles de média dimensão que não deixam de ser surpreendentes pelo valor envolvido, mas que também ajudam a forrar os cofres – como por exemplo o trio composto por Ivan Cavaleiro, João Cancelo e Hélder Costa, todos negociados por 15 milhões. Por um valor semelhante também saiu Bernardo Silva para o Mónaco em 2014, mas os 50 milhões que Pep Guardiola deu para o levar há poucos dias para o Manchester City provam que o jovem esquerdino estava subvalorizado quando saiu da Luz.

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